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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Palavra Muda - poesia -Paulo Vasconcelos


Avaliado no Brasil em 9 de janeiro de 2018
Compra verificada
O livro é maravilhoso. A poesia rica e sutil flui como fumaça atravessando todos os nossos sentidos. O autor 
do livro, Paulo Vasconcelos é um poeta vibrante e sensível, trazendo para nós seus leitores a delicadeza da 
sua obra e a beleza intrínseca do seu pensamento e inspiração.





A palavra fere, pois é muda e surda,ela gagueja o sentitr

e tenta...
...
Não me perguntes nada
Não sou escravo de palavras,
eu sim as escravizo e vivo.
...
Não fujas de mim
mesmo neste dia de chuvas.
...e eu a correr sem teus agasalhos,
e tu a correr com meus agasalhos.


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Palavra Muda

Avesso da Palavra, Poesia Paulo Vasconcelos



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“O que digo é um desdizer como cuspir para dentro, não reverbera”, “Tenho medo dos dicionários que dizem palavras presas”.





Um percurso pelo Avesso da Palavra
Palavra, tempo, memória: são as peças que escolho para seguir o fio que me conduz pelo Avesso da palavra.
É preciso de um fio condutor: existe um, dado pela sequência de poemas, e também vários, puxados por cada leitor, que se deixa perder na solidão da “cartografia vencida” do poeta, labiríntica como o ser.
Falo do poeta, mas falo de mim. Falo do poeta, mas do sujeito em devir. Permitem-me isso a ausência de títulos para os poemas, os movimentos que sugere cada parte do livro (uma ordem, entre outras possíveis), além do próprio jogo proposto pelo trabalho que é feito com a palavra.
Colocar a palavra pelo avesso, dobrá-la/desdobrá-la, é buscar pela “despalavra”, é “catar feijão”. É , como diria Roland Barthes, “trapacear” o tempo inteiro com a linguagem, como um jeito de não se aprisionar pelo seu “fascismo”: tentativa de dizer as coisas, o mundo, as coisas do mundo, por imagens, como no primeiro poema, em que tempo, morte e baía sem peixes e crustáceos são encadeados de forma a compor uma unidade que não se basta e é sempre movimento: “Os estômagos das palavras fazem cadeia [...] / Explosões destes estômagos e seus cais”.
O “homem palavra”, sujeito que se elabora nos poemas, reconhece que é feito de linguagem, mas anda “à procura de palavras para abafá-las”. E, embora as palavras sejam pouco para o mundo, contraditoriamente, é por meio delas que se pode “focinhar a vida e gritá-la como se assim ardesse menos”.
Assim é que Paulo Vasconcelos desnuda o teor do seu fazer poético, como é possível perceber em inúmeras passagens da travessia: “Eu lia com as mãos [...] / Eu aprendia com todo o corpo / Hoje fecharam as mãos para o mundo e se aprende só com as letras”, “O que digo é um desdizer como cuspir para dentro, não reverbera”, “Tenho medo dos dicionários que dizem palavras presas”.
Nesse jogo, entretanto, Vasconcelos faz reverberar, além da literatura oral, Manoel de Barros e João Cabral de Melo Neto, outras vozes, como a de Octavio Paz, para quem a imagem poética tem o objetivo de dizer o indizível. Escreve Vasconcelos: “Poemar é nada dizer dizendo o que é inacessível”.
É precisamente por conta dessa busca sem fim e pela impossibilidade de representar a realidade que, segundo o olhar de Barthes, existe a literatura. Dessa maneira, faz-se a poesia de Vasconcelos: “O real nos doerá para sempre” (Orides Fontela).
Por essa trilha, tempo e memória são tramados e destramados ao longo dos poemas, que, no desengasgar da palavra, expõem um sujeito que se reconhece incerto e se reelabora através da linguagem:
Meu coração não tem fibra
O poema dá-lhe franja
Mas não finjo nem digo
Apenas assoletro o que o juízo me dita
Junto com as minhas mentiras
Verdade escolhidas
No manto do homem palavra

Se a percorro de posse de uma “cartografia vencida” e colho os signos pelo avesso, a memória, o passado, com que me deparo é refeito “por imagens, por eflúvios, por afeto”:

Não sei de onde venho,
Não sei de onde fui,
Sei que sou de nada
Sou estampa desbotada entre pedaços de linhas retrós
Botões em costureiro velho

Nesse sentido, vários elementos são combinados de forma a compor uma espécie de mitologia pessoal, atravessada, além de leituras – algumas já destacadas – por diversos símbolos.
Estes remontam a tempos e espaços singulares (a infância, o Nordeste, a cidade de São Paulo...), entretanto, simultaneamente, mitificados: “No pão doce do meu pai / as abelhas estancavam [...]/ Pintando aos abanos as tardes na padaria”, “Caranguejos [...] / que silenciosamente confabulam com nichos de águas e dejetos assoletrando / Capibaribe”, “[ ...] o sol batendo nas arueira do sertão”, “Um coração vazio e aliviado como cabaça na seca”, “flores de sabugueiros”, “cianinhas brancas”, “Minha vó ao centro da máquina pedia-me / A colher e punha se a mexer o açúcar / Que coloria a casa de sabores de notas violadas”, pés de castanheiras, “E me apaulistei pouco a pouco mas nunca esquecerei / Das vogais do meu coco catolé”, “Nas vielas da cidade adotada falta cheiro de cajueiro / Tem ausências de cantares de borboletas no cio”, “Vendia abacaxi no centro e dizia o mior abacaxi de Sampalo com cheiro de me de abelha” são algumas das imagens que constituem um sujeito em devir: palavra, bicho, árvore, cidade...
O passado recuperado pelas palavras não é o espelhamento de uma sequência de fatos vivenciados por um verdadeiro eu, mas resultado de um processo de leitura e reescrita de si levado a cabo pelo sujeito múltiplo que ganha corpo nos poemas.
Sem pretender esgotar os sentidos para a poesia de Paulo Vasconcelos, esta breve travessia é, portanto, um convite para que o leitor trace seu rumo por entre as brechas da linguagem, por suas dobras. Mediante esse traçado, é possível desfrutar do prazer do texto, ao percorrer o espaço de fruição que se cria entre escritor e leitor pela dialética do desejo que entre eles se estabelece.

Antonio Laranjeira
Doutor em Teoria da Literatura
Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Tereza Costa Rêgo: O Pulo sobre o fim ...28.04.1929- 26.07.2020


A mulher que poetou sobre o encarnado, pulou  para a nuvem,sempre ,sempre de Olinda -PE com seus encantos que os amigos bem sabem, vai Tereza mas morre um pouco a tua cidade na ausência do teu cromatismo existencial.


Leiam mais sobre TEREZA COSTA REGO ...



http://especiais.jconline.ne10.uol.com.br/pernambuco-modernista/tereza.php




quarta-feira, 29 de julho de 2020

Porque o íntimo é sempre humano. (Eduardo Diógenes, poeta. *18/08/1954. +27/07/2020)


EDUARDO DIÓGENES por Moisés Neto -Facebook- recorte deste blogueiro



O homem vem e vai, o poeta vem e vai como a estrela cega,mas fica o rastro  para os que entendem -o que não se compreende-Paulo Vasconcelos


EDUARDO DIÓGENES
Por ANTONIO MIRANDA  https://bit.ly/2BCF4vN
Nascido no Recife, em 1954. Publicou Brincadeira no 27 (Uberaba, Editora Gráfica vitória, 1975), Malabarismo Crônico (Recife, Editora Pirata, 1980) e A barlavento (Rio de Janeiro, 7 Letras, 2000, reunindo trechos dos livros A barlavento e Arqueologia da dúvida). No ano de 1986 seu livro  Malabarismo crônico passou afazer parte do acervo de escritores brasileiros na Fundação Casa de Las Américas em Havana (Cuba). Em 1993,  foi incluído na Antologia da nova poesia brasileira, promovida pela Rio Arte/Funarte, organizada e selecionada pela escritora, tradutora e poeta Olga Savary. Incluído na revista Poesia Sempre (n° 12/ano 2000) da Biblioteca Nacional. Participou como narrador do filme Joaquim Nabuco: Um vencido da grande causa, de Taciana Portela (1° lugar no Margarida de Prata 2000, em Brasília). Mantém inéditos – aguardando editores – Os livros Ilha do Recife dos Navios (com apresentação de Jorge Wanderley e prefácio de Olga Savary) e Ficções.

Poemas extraídos da obra:

STEREO
INVENÇÃO RECIFE

coletânea poética 2

Delmo Montenegro / Pietro Wagner
(organizadores)
Recife: Prefeitura do Recife, Secretaria de Culura,
Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2004.
 

VOGAL DA FOME
( OU NÃO SE FAÇA VERSO )

1.
nada cristalmente.
seca a garganta
calada
em seu repouso
de horas e agonias.
impedidamente boca não pronuncia.
plásticas de sílabas
e adjetivos
semi-erguidos
do non sense
cotidiário
de notícias graves
e coragens breves.
entre nomes ávidos
dos mercados éticos —
palavras mortas.

2.
nada essencialmente
vazio o cérebro
amontoado
de memórias —
prateleira desarrumada
selos da história
abundantemente outra
e pouca.
nada simplesmente exato
reta a entonação agrava —
ratos dos porões mais frios.
suja a vogal da fome
entala
e não se faz mais verso.

ALGUMA ESTAÇÃO

de que adianta insistir
verbos no infinitivo
sinopses de alma
a lua se acaso cheira
 não impede
o verso seja seco
pobre
e que algum olhar de lírio
seja nosso esquecimento
e não a utopia
  
Á MARGEM DO CANAL

à margem do canal
desfilam casas
enraizadas na lama
(se ao que se pode
chamar qualquer teto)

antes de qualquer vogal
ou geografia
entre macilenta e suja terra
nos caixotes
candidatos a banheiros
à margem do canal

                                      CONTEMPORÂNEA 
                                      horas contemporâneas
                                     não discursamos a fome
                                      úlcera universal
                                      supurada em nordestes 
                                      Outra forma de escrever
                                      úlcera nordestina
                                      a fome contemporânea
                                      não silencia as bocas

POESIA SEMPRE. Ano 8 – Número 12 – Maio 2000.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000.

        O barlavento
        Os pássaros também são feitos de tarde
         ou num poema
         podem voar
         como escolha seu pintor;
         do bicho à imagem
         utilizar a metáfora.
         mas
         se a nada servem
         ou ornamentam apenas
         o delírio da impossível liberdade,
         os pássaros voam na tarde
         e os avisto grafando esses versos.

         Depois do apito
        Operárias tomam o ônibus
         roupas iguais
         quase todas barrigudas
         saem da fábrica
         para o fogão e a mesa.
         depois na cama
         servem à sanha de seus homens.
         quando não
         levam uma surra.

         Arqueologia da dúvida
         Silêncio interior
         moscam pousam pelos braços
         um cachorro dorme
         embaixo do caminhão.
         o que é sentir
         o nada sentir?
         se ao mundo
         apenas se empresta
         o destino, a passagem, o delírio
         um boi manso na campina
         é mais bonito do que esse homem
         que habita em mim.

Página publicada em julho de 2010; página ampliada em maio de 2018

sexta-feira, 10 de julho de 2020

“Não há nunca outro critério senão o teor da existência, a intensificação da vida”


FOTO POR FACEBOOK


FLAGRA DO FACEBOOK  



Ouvi essa história em uma belíssima aula do professor Cláudio Ulpiano. O tordo é um passarinho canoro possuidor de três tipos de canto. O primeiro ele canta quando quer marcar um território. Nesse caso, sempre acontece uma disputa, com dois ou mais tordos rivalizando pelo mesmo território. Sem precisarem brigar , o tordo de canto mais potente vence e toma conta do território, sem que os outros tordos fiquem ressentidos ou queiram se vingar. O segundo canto o tordo canta quando deseja conquistar uma fêmea. Esse segundo canto é mais harmonioso e sutil, entremeado por silêncios eloquentes acompanhados de posturas sedutoras. Mas no final é sempre a fêmea que escolhe qual tordo será seu companheiro amoroso. O terceiro canto o tordo canta em dois momentos do dia: quando o sol nasce e quando o sol morre . Na aurora, é canto de boas-vindas; no fim da tarde, é canto de despedida. Esses dois cantos são de gratidão ao sol: quando o sol se vai, por ter havido aquele dia, não importando o que nele aconteceu; quando um novo sol chega, trazendo com ele um novo dia. Enquanto os galos cantam apenas o dia que vem, o tordo também canta grato à vida que recebeu do dia que vai, como os estoicos nos ensinando o “Amor Fati”.
O canto de território e o canto amoroso são explicáveis pelo instinto ,porém o terceiro canto parece querer um território e ser movido por um afeto que vai além do corpo orgânico . É um canto espontâneo e livre , parecendo um poema, uma obra de arte . O tordo sobe então até o galho mais alto para horizontar sua visão e cantar um canto de desterritorialização a todo território dado, ao mesmo tempo se reterritorializando na abertura e amplidão do espaço .
Esse terceiro canto, porém, coloca o tordo sob perigo. Pois nesses períodos fronteiriços entre o dia e a noite a soturna coruja fica alerta , à espreita para ver onde está o tordo, para fazê-lo de presa . A mesma arte que singulariza o tordo, também o põe à mostra. Porém o tordo não se esconde ou cala , mesmo sob a ameaça da morte : ele persevera no seu cantar à vida , com o máximo de potência que pode.
“Inventar uma tarde a partir de um tordo”.( Manoel de Barros )
“Não há nunca outro critério senão o teor da existência,
a intensificação da vida”. ( Deleuze & Guattari, “O que é a filosofia?”)