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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O POVO Online - Fortaleza - Professor cearense é premiado por projetos pedagógicos inovadores

O POVO Online - Fortaleza - Professor cearense é premiado por projetos pedagógicos inovadores

Leo Campos, ‘Universo para Leo’

POR EU OVO
O disco do Leo Campos, ‘Universo para Leo’, é uma grata surpresa ao ouvinte. Lançado no início deste ano, 2011, em Brasília. Este é primeiro álbum deste jovem promissor compositor brasiliense, que tem canções – que mesmo sem refrão – trazem narrativas de trajetórias singulares.

Logo na primeira faixa, ‘Caverna’, destacam-se o saxofone virtuoso de Ademir Júnior dialogando com a sanfoninha matadeira de Marcos Farias (filho de Marinês), além da onipresente percussão de Leander Motta (que toca em quase todas as faixas). ‘Marcas’ tem a ilustre participação da embaixatriz da voz de Brasília, Ellen Oléria, sem falar na composição brilhante de Campos. Duvido você não cantarolar junto, ou batucar os pezinhos, ou sacudir a cabeçinha, na batida do reggae?

‘O trem’ é um blues meramente candango, que tem a guitarra endiabrada de Dillo Daraújo e a gaita de Cristiano Crispis. ‘Frente fria, verso quente’ é uma balada astronômica, que faz da letra uma galáxia de poesia onírica. ‘Piano sem dó’ foi composta em parceria com outro jovem compositor brasiliense, Tiago Gasta, e brinca com as convenções dos acordes e a poesia da língua portuguesa.

Moises Alves, o ‘Paraibah’, toca seu belo trumpete Milesfônico em ‘Piano sem dó’ e em ‘Mensageiro’. E para finalizar as grandes participações especiais, coube a Dudu Maia, colocar o bandolim choristriônico na singela ‘Star no céu’. A última faixa do disco, ‘O inominável’, é quase uma oração rockenrou, com uma letra poética que diz entre outras máximas, “borboleta é a flor que cai do alto”. Só esperamos que não seja profética como quando em “canção tocada pra ninguém ouvir”, e que esse disco seja baixado, apreciado e ouvido por todos aqueles que apreciam a boa música.

O restante dessa banda ‘Universal’ que gravou o disco junto com Leo Campos (violão e voz), são André Vasconcelos no baixo e Tiago Rosback na bateria, além do Dillo Daraujo na produção, guitarra, teclados e diegese.

Em tempo, Leo Campos, já está em produção de seu segundo CD, ainda sem título, mas que ele garante que será lançado no primeiro semestre de 2012. E eu não podia deixar de falar com ele um pouco sobre música, downloads, parcerias, processos, enfim...

O que te fez seguir esse caminho na música?
Na escola, havia um colega de turma que já tocava violão e escrevia poemas. Tínhamos 16 anos. A gente queria montar uma banda, mas eu não tocava nenhum instrumento e nem escrevia nada. Algum tempo depois, a escola contratou um professor de música. Era a minha chance de aprender um instrumento. Troquei então a aula de religião pela aula de música. Mas eu nem tinha noção do tamanho de meu interesse pela música, até então era apenas experimentação de adolescente. Foi quando na primeira aula, eu já senti que algo havia mudado em minha vida. Fui afetado logo de cara pela música. Eu lembro que o professor passava os exercícios e eu simplesmente não conseguia parar de treinar, até sangrar as pontas dos dedos. Depois disso, tudo em minha vida tinha relação com a música. Por mais que eu tenha continuado os estudos, tenha terminado faculdade e trabalhado em outras áreas, a música sempre me apoiou. Fui então buscar experiências diversas, participei de bandas de baile, toquei até em uma banda de axé. Fiz barzinho (voz e violão) por quase 20 anos. Participei de alguns festivais de música, sendo premiado em alguns deles. Foi quando fiquei convicto de que meu trabalho tinha relevância. Então resolvi gravar um disco. Hoje já não é mais uma questão de escolha. Acho que a música me escolheu.

Você também compõe com outros compositores?
Tenho parceiros incríveis. Uma das coisas que mais me deixa feliz é poder estar sempre com eles, produzindo e compartilhando composições. O Alessandro Lustosa, grande compositor, tem um trabalho muito bonito e é um grande poeta. No disco 'Universo para Leo' tem um poema dele que eu musiquei, chamado 'Star no céu', e tem uma música minha que ele poemou, chamada 'Júbilo'. Ele ainda assina 'Inominável' neste disco, uma música feita a cinco mãos. Ele é um cara muito produtivo, tem centenas de canções e não pára de compor. Sua esposa, Ana Flávia Garcia, tem também um trabalho incrível na música, no circo e no teatro. O Tiago Gasta, com um trabalho muito consistente, poeta, compositor, tem um disco lançado chamado 'Prole Fera' que vale a pena conferir. 'Piano sem dó' e 'Inominável' foram parcerias com o Tiago. Além desses, tem o Luciano de Sá, May Bucar, Carlos Soares, Ricardo Ribeiro, outro grande compositor. Todos são muito bons. A gente se encontra, e quase sempre sai uma canção nova. Sempre com um cuidado com as letras, harmonias e melodias, sempre procurando um caminho pouco explorado pela composição popular. Sempre acreditando que quando não podemos mais nos calar, temos de nos expressar por meio da música, de forma honesta, sem forçar um mercado. A expressão tem motivos: existir e ter relevância para criar nosso espaço. Temos muito o que dizer.

Você se acha primeiro compositor que cantor?
Certamente. Aliás, ser compositor é o que me credencia a cantar. Já me preocupei muito com essa coisa da voz, mas na realidade eu nunca estudei e não domino nenhuma técnica. Eu era muito sistemático com meu canto, mas depois me liberei para essa tarefa. Mas eu penso, sim, em compor músicas que exijam um trabalho vocal mais elaborado e que me impulsionem a estudar. Gosto de desafios. Tenho pavor de me tornar repetitivo. Na música, desafios são matéria-prima do meu trabalho. Buscar esses desafios, para o meu processo é essencial.

Como seu disco tem sido recebido?
As pessoas elogiam bastante a produção do disco. É sempre a primeira impressão. Gostam muito também da participação da Ellen Oléria, costumam dizer que o repertório é diferente do que tem rolado em Brasília (e, sem nenhum risco de prepotência, gosto muito de ouvir isso) e gostam dos textos do encarte. Fora isso, ele ainda não chegou à nenhuma mídia. Estou começando a divulgá-lo. Já estou com uma banda ensaiada, pronta para o ataque, procurando um produtor, alô produtores!!! Creio que terei um novo feedback sobre o disco agora, tendo a honra de estar aqui no Eu Ovo. Aliás, obrigado pela oportunidade. Sou frequentador assíduo do blog.
Esse disco é de música pop, apesar de minhas canções quase não conterem refrões. Ele também dialoga com o rock e a música brasileira dita popular. Gostaria muito de receber os comentários dos leitores. Você que baixa, por favor comente. Essa é uma forma de agradecer pelo trabalho do Eu Ovo.

Foram muitas participações especiais no seu disco?
Foram participações mais especiais do que eu poderia imaginar. A começar pela Ellen Oléria, que é uma artista sensacional, generosa, que emprestou todo seu talento para enriquecer o disco. Tenho muito orgulho. Para mim, a música de Brasília está muito bem representada por ela. Cetro e coroa para Ellen. Também tem os baixos do André Vasconcellos, que tem uma sacação de música popular impressionante, entendeu tudo rapidinho. Tiago Rosback, monstro da bateria, Dillo Daraujo nas guitarras, teclados e diegeses, Leander Motta, na percussão, Cristiano Crispis na gaita, Moisés Alves, trompete, Ademir Junior, sax, Marcos Farias, acordeon, Dudu Maia, bandolim. Uma constelação e tanto para o Universo Para Leo. Sou muito grato por esse time de primeira. Aprendi demais com todos eles.
Além disso, minha turma também participou, fazendo um coro na última música: Haila Ticiany, May Bucar, Tiago Gasta, Alessandro Lustosa e Ana Flávia Garcia.

Quem produziu o disco? Como foi esse processo???
O disco foi produzido pelo Dillo Daraujo, um cara mega talentoso e mega profissional. Ele simplesmente foi essencial em todo o processo, assim como o Marcos Pagani, co-produtor, que acreditou no trabalho e apostou suas fichas nele. Primeiro entramos no estúdio com uma banda base, gravamos 13 canções, que era o material da pré-produção. A partir daí fomos criando os arranjos de base. Em seguida, gravamos a bateria do disco todo. Depois, o áudio foi enviado para o André, no Rio, para a gravação dos baixos. Depois, gravei todos os violões. Foi quando fizemos, eu e Dillo o restante dos arranjos, e os outros instrumentos foram colocados, finalizando com a voz.
Cortamos duas canções que consideramos um pouco fora do contexto do álbum e fechamos em 11. A escolha do repertório contempla todas as fases da minha jornada como compositor. Portanto tem músicas ali com mais de 15 anos de idade. Apesar de ser meu primeiro disco, é como se fosse uma coletânea de várias fases.

Como você vê essa questão de free-downloads?
Não creio que tenho alguma novidade para acrescentar a este importante tópico. Fico o tempo todo tentando imaginar uma forma do músico inovar em sua interação com o mundo, utilizando o download gratuito como ferramenta. A única coisa que sei é que é um processo que não tem mais volta, temos que conviver com download de músicas, e acho isso ótimo. Já sabemos que para os artistas de pouca visibilidade é de suma importância. Quanto aos consagrados, não precisam disso pra viver. Nunca precisaram. Eu, que me valho da internet para trabalhar, gostaria que o mundo inteiro baixasse meu disco de graça.
Tem muita gente achando que pode voltar no tempo e defendendo o fim dos downloads gratuitos. Outros tantos confundem compartilhamento com pirataria, não procuram se informar, ou não querem, enfim. Eu entendo que o jabá é algo muito mais imundo e devastador do que o compartilhamento de música pela internet. O jabá é responsável pelo enfraquecimento de toda uma enorme produção de qualidade em favor da música de massa, ou seja, o Brasil inteiro se empobrece culturalmente e não vejo ninguém combatendo isso! Falta discernir quem é o verdadeiro inimigo da cultura. E está na cara.

2011 Universo para Leo

1. Cavernas
2. Marcas (com Ellen Oléria)
3. O Trem
4. Frente fria, verso quente
5. Piano sem dó
6. Júbilo
7. Mensageiro
8. dEUs
9. Nunca mesmo
10. Star no céu
11. Inominável (com Tiago Gasta)

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A VIOLÊNCIA ATACA

FOTO IMDB


POR QUE SERÁ ?
A violência mina, por todos os lençóis , texturas, e linguagens. e contextos.
A violência estÁ no olhar, no falar, na relação de poder. de governar , de administrar, no uso da ironia,enfim por todas as partes.

FOTO IMDB
Ela espoca também pelo álcool, pelo inconsciente, pelo represado,pelo amor/desamor.
E ainda achamos estranho crimes fatais e perversos, por que?
FOTO IMDB
Precisamos ter atenção no que fazemos e se não estamos emprestando violência, por exemplo, no tom da palavra, na falta de atenção ao outro, no trânsito, no trabalho, no uso do poder, na educação , na competição desvairada.
No consumo a violência se encontra presente.Fique atento.Nós produzimos violência e temos potência para exagerá-la.
Dê atenção ao outro,dê um bom dia, boa tarde, boa noite, seja gentil, cale por vezes, ouça, pondere e ative seu lado mais humano e menos animal.
Respeite os idosos, lembrem-se deles neste natal!!!!!!!!!!!
Por uma vida melhor!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti: Seria blasè e extremamente mentiroso dizer que não estou exultante com o fato do meu primeiro livro solo, A sordidez das pequenas cois...

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti: Seria blasè e extremamente mentiroso dizer que não estou exultante com o fato do meu primeiro livro solo, A sordidez das pequenas cois...

SERGIO SANTANNA POR OVERMUNDO

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FOTO POR RASCUNHO



1Tacilda Aquino · Goiânia, GO
25/2/2007 · 183 · 5
No ano passado, "zapeando” os canais de TV, me deparei com a figura de Sérgio Sant’Anna numa entrevista em que falava de seu livro O Vôo da Madrugada. Fiquei ligada na conversa, que peguei pela metade, mas que despertou meu interesse por conhecer o autor mais profundamente. Na manhã seguinte não resisti e procurei informações sobre ele na Net e é claro, encontrei seu e-mail. Não resisti, escrevi falando que tinha visto a entrevista e tinha prometido a mim mesma a comprar o livro para ler e que, depois de lê-lo, gostaria de conversar com ele novamente. Talvez fazendo uma entrevista para o Jornal do Cerrado, da Universidade Estadual de Goiás (http://www.ueg.br), que tem uma edição eletrônica. Escrevi o e-mail assim, como se fosse metade jornalista e metade fã. Sérgio foi super simpático. Disse que estava viajando para o interior de São Paulo para visitar uma filha e que devia ficar por lá uma semana. Mas que eu podia mandar as perguntas que ele me responderia.

Uma semana e O Vôo da Madrugada "devorado", escrevi para o Sérgio, perguntando se ele se lembrava de mim e reforçando meu desejo de entrevistá-lo. Mandei as perguntas pela manhã, ainda no jornal e, para minha surpresa, quando cheguei em casa, por volta das 15 horas, ele já tinha respondido minhas perguntas.Sem me aprofundar muito em analisar o livro, reproduzo abaixo a conversa com Sérgio e aproveito o espaço para agradecer de público a sua simpatia. A seguir a entrevista, publicada originalmente no Jornal do Cerrado.


Prosa com a força da melhor poesia

O mundo só é verdadeiramente vivido quando pode ser narrado. Este bem podia ser o mote da obra de Sérgio Sant'Anna, escritor que, desde a sua estréia com O Sobrevivente, em 1969 (que lhe valeu a participação no International Writing Program, da Universidade de Iowa, EUA), vem quebrando regras, ampliando contornos, questionando agudamente os limites do conto, em busca de uma nova experiência do narrar. Um dos melhores escritores brasileiros da atualidade, Sérgio Sant’Anna, embora já tenha publicado poesia, peças de teatro, novelas e romances, se considera um contista. E foi justamente o livro de contos O Vôo da Madrugada que me levou a entrevistar o escritor carioca que já teve alguns de seus trabalhos levados às telas de cinema. O livro em questão valeu a seu autor o prêmio Jabuti e nele Sérgio Sant'Anna constrói uma escrita da busca apresentando ao leitor contos concisos em sua estrutura, mas que se bifurcam em múltiplas leituras.

Como a literatura se beneficia da transposição de suas obras para a tela? Ela ajuda a vender cópias de suas obras, por exemplo?

No caso de A Senhorita Simpson – Bossa Nova não houve benefício algum, até porque a história que o Bruno (Barreto) filmou quase não tem a ver com minha novela. Não me identifico nem um pouco com o filme. Já Crime Delicado, de Beto Brant, adaptado de meu romance Um Crime Delicado, além de ser um filme belo e perturbador, tem muita coisa em comum com o livro, com o seu espírito, é claro que com algumas diferenças. A crítica, em geral, tem sido extremamente favorável à obra de Brant e sua equipe. A Companhia das Letras lançou uma nova edição junto com o lançamento do filme e, pelo que sei, está vendendo bem. Também no festival de Sundance, nos Estados Unidos, no final de janeiro do ano passado ( 2005), havia um filme, La muerte es pequeña, adaptado de um conto meu, Estranhos (incluído em meu Contos e Novelas Reunidos), e filmado por Fellipe Barbosa, um jovem de vinte e cinco anos que estuda na Columbia University, Nova York. Um ótimo curta-metragem.

Você ficou seis anos sem publicar. Foi esse tempo que você levou para escrever Vôo da Madrugada ou fez outras obras neste período?

Eu demoro mesmo muito tempo para escrever, não tenho pressa. E os contos foram saindo muito devagar. E no meio desses seis anos, trabalhei numa reedição de meu livro de poemas, Junk Box, uma máquina de versejar, lançado pela Dubolso, MG, com belíssima programação visual e ilustrações de Sebastião Nunes.

O Vôo da Madruga tem certos contos que parecem exemplares da tão propagada literatura fantástica apreciada pelos autores latino-americanos. Você os escreveu conscientemente ou eles foram sendo criados instintivamente?

Na verdade não gosto de literatura fantástica, e pelo que me lembro apenas o conto título, O Vôo da Madrugada, além de A Barca na Noite, têm essa característica. Mas talvez essa impressão tenha sido causada pelo tema da morte e pode ser que eu tenha me esquecido de algum conto que possa se enquadrar no gênero. Mas é um gênero que não cultivo. Fui apenas seguindo a minha luz.

O conto que dá título ao livro impressiona pela incursão que você faz à alma do personagem e da sua tremenda e desesperada solidão. A bela que viaja ao lado dele na madrugada é fruto desta solidão? Ou ela realmente esteve lá?

Deixei em aberto essa questão da identidade da mulher. Talvez eu não goste do termo fantástico porque está muito ligado a um estereótipo latino-americano. Digamos que esse conto tem a ver com as histórias extraordinárias de Edgar Allan Poe, um autor que aprecio muito.

O Vôo da Madrugada tem os mais diversos tipos de personagens. No entanto, a gente percebe pontos comuns entre eles, como as obsessões com temas como morte e angústias. São suas obsessões que você transporta para os personagens?

Esse foi um livro particularmente cheio de angústias e obsessões com a morte. A morte como tema esteve muito presente na primeira parte do livro. Já na parte final, a que mais gosto, Três textos do olhar, é Eros que predomina, a arte, a visualidade, a paixão pela figura da mulher.

O que lhe dá mais prazer escrever: romance, contos? Como você avalia as limitações dos romances nacionais atualmente? Ou isso é mera análise do mercado editorial, ou seja, das próprias editoras?

Eu gosto mais de escrever contos, porque estão mais de acordo com certas experimentações com a linguagem que gosto de fazer. Gosto também de histórias de tamanho médio, e atualmente rascunho uns três que têm esse formato. Aliás, publiquei dois livros com esse formato de histórias de tamanho médio: Breve História do Espírito e O Monstro, ambos pela Companhia das Letras. E, decididamente, não sou um cara de escrever romances longos, com muitos personagens. Nem posso dizer se há crise do gênero romance no Brasil, não parei para pensar sobre isso.

Quais são os principais recursos de um ficcionista? O que não pode faltar em uma boa obra de ficção?

Penso que não podem faltar a imaginação e o trabalho com a linguagem.

Lendo O Vôo da Madrugada a gente tem a impressão de que você está tentando exorcizar alguma coisa... Talvez uma fase da carreira literária para dar início a uma outra. Isso é verdade, quer dizer, você faz exorcismo pessoal no livro?

Eu não sei se quis exorcizar alguma coisa, escrevi o que havia em mim. Mas algo é certo: o que estou escrevendo neste preciso momento é muito diferente de O Vôo da Madrugada. Até porque o humor está de novo muito presente, como em outros livros meus, ainda que, várias vezes, humor negro. Em O vôo..., esse humor (negro) está presente principalmente na novela O Gorila.

Alguns de seus personagens fictícios se apresentam como narradores, tomando a pena nas próprias mãos e escrevendo seus relatos. Noutras vezes, você parece se expor apresentando-se como o contista e dando um tom íntimo, por assim dizer, ao texto. Como é fazer essa transição?

Na ficção o narrador é muitas e muitas vezes um personagem. Falar na primeira pessoa não quer dizer que a pessoa está escrevendo uma história real. Às vezes o autor pode até esconder com a terceira pessoa um acontecimento real. Quando eu me refiro ao contista, creio que estou me referindo a mim mesmo na terceira pessoa. O que não quer dizer que eu tenha de ser absolutamente fiel à realidade. Uma das coisas boas da ficção é que você pode inventar o que quiser, até um outro eu para você.

Fiquei muito impressionada como Um Conto Abstrato, que você apresenta como "Um conto de palavras que valessem mais por sua modulação que por seu significado". Como é isso? E qual a diferença entre Um Conto Abstrato e Um conto obscuro?

Eu sempre quis escrever um conto abstrato. Um conto formal e bonito, em que as palavras tivessem o peso que as notas têm na música. Talvez seja o conto que eu mais goste na primeira parte do livro. A frase que você escreveu na pergunta define bem o conto. Já Um conto obscuro são muitos temas, que vão surgindo na história, ligados, creio, por um fio poético.

Dá para você fazer uma análise mais profunda de uma afirmação sua, que dá conta de que a literatura não é capaz de interferir imediatamente na realidade. Ela lida com a realidade em médio e longo prazo, criando realidades com sua liberdade?

Não me lembro mais em que contexto eu disse isso. Suponho que quis dizer que não se muda a realidade social e política com a literatura, sua contribuição para isso é muito modesta. Mas cada obra de arte é uma realidade nova, uma contribuição à cultura de um país, e talvez seu maior papel seja esse.

Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr. CartaCapital relata o que há no livro 08/12/2011 | Redação Carta Capital | 39

Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr. CartaCapital relata o que há no livro 08/12/2011 | Redação Carta Capital | 39 Comentários
Não, não era uma invenção ou uma desculpa esfarrapada. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. realmente preparava um livro sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana chega às livrarias “A Privataria Tucana”, resultado de 12 anos de trabalho do premiado repórter, que durante a campanha eleitoral do ano passado foi acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e tornou-se involuntariamente personagem da disputa presidencial.


'A Privataria Tucana', de Amaury Ribeiro Jr.
Na edição que chega às bancas nesta sexta-feira 9, CartaCapital traz um relato exclusivo e minucioso do conteúdo do livro de 343 publicado pela Geração Editorial e uma entrevista com autor (reproduzida abaixo). A obra apresenta documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização.

Ribeiro Jr. elenca uma série de personagens envolvidas com a “privataria” dos anos 1990, todos ligados a Serra, aí incluídos a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado. Mas quem brilha mesmo é o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-tesoureiro de Serra e FHC, Oliveira, ou Mister Big, é o cérebro por trás da complexa engenharia de contas, doleiros e offshores criadas em paraísos fiscais para esconder os recursos desviados da privatização.

O livro traz, por exemplo, documentos nunca antes revelados que provam depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI, na conta de uma companhia de Oliveira nas Ilhas Virgens Britânicas. Também revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta do mesmo Oliveira. Segundo o livro, o ex-tesoureiro de Serra tirou ou internou  no Brasil, em seu nome, cerca de 20 milhões de dólares em três anos.

A Decidir.com, sociedade de Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, também se valeu do esquema. Outra revelação: a filha do ex-governador acabou indiciada pela Polícia Federal por causa da quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros. Por meio de um contrato da Decidir com o Banco do Brasil, cuja existência foi revelada por CartaCapital em 2010, Verônica teve acesso de forma ilegal a cadastros bancários e fiscais em poder da instituição financeira.

Na entrevista a seguir, Ribeiro Jr. explica como reuniu os documentos para produzir o livro, refaz o caminho das disputas no PSDB e no PT que o colocaram no centro da campanha eleitoral de 2010 e afirma: “Serra sempre teve medo do que seria publicado no livro”.

 

CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?

Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo, tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.

CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?

ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence, contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.

CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?

ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da PF).

CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?

ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.

CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?

ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.

CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?

ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.

CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?

ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.

CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?

ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.

CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.

ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.

Tags: José Serra, livro do Amaury Ribeiro Jr.