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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O vendedor de palavras ( Fábio Reynol )

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Fábio Reynol (1973), paulista da cidade de Campinas, é jornalista e escritor. Trabalha como assessor de imprensa, redator para Internet e ghostwriter. Tem vários trabalhos, nenhum publicado, entre eles o livro-reportagem "A verdadeira história de Pedrinho Matador" escrito em parceria com a jornalista Patrícia Capovilla.





O vendedor de palavras ( Fábio Reynol )

Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros
nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical".
Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico - apenas
R$ 0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.

- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
- O senhor sabe o significado de histriônico?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.
- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?
- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lenga-lenga...
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também evasivas.
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei! Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
- Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
- Tem troco para cinco?

O POVO Online - Fortaleza - Professor cearense é premiado por projetos pedagógicos inovadores

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Leo Campos, ‘Universo para Leo’

POR EU OVO
O disco do Leo Campos, ‘Universo para Leo’, é uma grata surpresa ao ouvinte. Lançado no início deste ano, 2011, em Brasília. Este é primeiro álbum deste jovem promissor compositor brasiliense, que tem canções – que mesmo sem refrão – trazem narrativas de trajetórias singulares.

Logo na primeira faixa, ‘Caverna’, destacam-se o saxofone virtuoso de Ademir Júnior dialogando com a sanfoninha matadeira de Marcos Farias (filho de Marinês), além da onipresente percussão de Leander Motta (que toca em quase todas as faixas). ‘Marcas’ tem a ilustre participação da embaixatriz da voz de Brasília, Ellen Oléria, sem falar na composição brilhante de Campos. Duvido você não cantarolar junto, ou batucar os pezinhos, ou sacudir a cabeçinha, na batida do reggae?

‘O trem’ é um blues meramente candango, que tem a guitarra endiabrada de Dillo Daraújo e a gaita de Cristiano Crispis. ‘Frente fria, verso quente’ é uma balada astronômica, que faz da letra uma galáxia de poesia onírica. ‘Piano sem dó’ foi composta em parceria com outro jovem compositor brasiliense, Tiago Gasta, e brinca com as convenções dos acordes e a poesia da língua portuguesa.

Moises Alves, o ‘Paraibah’, toca seu belo trumpete Milesfônico em ‘Piano sem dó’ e em ‘Mensageiro’. E para finalizar as grandes participações especiais, coube a Dudu Maia, colocar o bandolim choristriônico na singela ‘Star no céu’. A última faixa do disco, ‘O inominável’, é quase uma oração rockenrou, com uma letra poética que diz entre outras máximas, “borboleta é a flor que cai do alto”. Só esperamos que não seja profética como quando em “canção tocada pra ninguém ouvir”, e que esse disco seja baixado, apreciado e ouvido por todos aqueles que apreciam a boa música.

O restante dessa banda ‘Universal’ que gravou o disco junto com Leo Campos (violão e voz), são André Vasconcelos no baixo e Tiago Rosback na bateria, além do Dillo Daraujo na produção, guitarra, teclados e diegese.

Em tempo, Leo Campos, já está em produção de seu segundo CD, ainda sem título, mas que ele garante que será lançado no primeiro semestre de 2012. E eu não podia deixar de falar com ele um pouco sobre música, downloads, parcerias, processos, enfim...

O que te fez seguir esse caminho na música?
Na escola, havia um colega de turma que já tocava violão e escrevia poemas. Tínhamos 16 anos. A gente queria montar uma banda, mas eu não tocava nenhum instrumento e nem escrevia nada. Algum tempo depois, a escola contratou um professor de música. Era a minha chance de aprender um instrumento. Troquei então a aula de religião pela aula de música. Mas eu nem tinha noção do tamanho de meu interesse pela música, até então era apenas experimentação de adolescente. Foi quando na primeira aula, eu já senti que algo havia mudado em minha vida. Fui afetado logo de cara pela música. Eu lembro que o professor passava os exercícios e eu simplesmente não conseguia parar de treinar, até sangrar as pontas dos dedos. Depois disso, tudo em minha vida tinha relação com a música. Por mais que eu tenha continuado os estudos, tenha terminado faculdade e trabalhado em outras áreas, a música sempre me apoiou. Fui então buscar experiências diversas, participei de bandas de baile, toquei até em uma banda de axé. Fiz barzinho (voz e violão) por quase 20 anos. Participei de alguns festivais de música, sendo premiado em alguns deles. Foi quando fiquei convicto de que meu trabalho tinha relevância. Então resolvi gravar um disco. Hoje já não é mais uma questão de escolha. Acho que a música me escolheu.

Você também compõe com outros compositores?
Tenho parceiros incríveis. Uma das coisas que mais me deixa feliz é poder estar sempre com eles, produzindo e compartilhando composições. O Alessandro Lustosa, grande compositor, tem um trabalho muito bonito e é um grande poeta. No disco 'Universo para Leo' tem um poema dele que eu musiquei, chamado 'Star no céu', e tem uma música minha que ele poemou, chamada 'Júbilo'. Ele ainda assina 'Inominável' neste disco, uma música feita a cinco mãos. Ele é um cara muito produtivo, tem centenas de canções e não pára de compor. Sua esposa, Ana Flávia Garcia, tem também um trabalho incrível na música, no circo e no teatro. O Tiago Gasta, com um trabalho muito consistente, poeta, compositor, tem um disco lançado chamado 'Prole Fera' que vale a pena conferir. 'Piano sem dó' e 'Inominável' foram parcerias com o Tiago. Além desses, tem o Luciano de Sá, May Bucar, Carlos Soares, Ricardo Ribeiro, outro grande compositor. Todos são muito bons. A gente se encontra, e quase sempre sai uma canção nova. Sempre com um cuidado com as letras, harmonias e melodias, sempre procurando um caminho pouco explorado pela composição popular. Sempre acreditando que quando não podemos mais nos calar, temos de nos expressar por meio da música, de forma honesta, sem forçar um mercado. A expressão tem motivos: existir e ter relevância para criar nosso espaço. Temos muito o que dizer.

Você se acha primeiro compositor que cantor?
Certamente. Aliás, ser compositor é o que me credencia a cantar. Já me preocupei muito com essa coisa da voz, mas na realidade eu nunca estudei e não domino nenhuma técnica. Eu era muito sistemático com meu canto, mas depois me liberei para essa tarefa. Mas eu penso, sim, em compor músicas que exijam um trabalho vocal mais elaborado e que me impulsionem a estudar. Gosto de desafios. Tenho pavor de me tornar repetitivo. Na música, desafios são matéria-prima do meu trabalho. Buscar esses desafios, para o meu processo é essencial.

Como seu disco tem sido recebido?
As pessoas elogiam bastante a produção do disco. É sempre a primeira impressão. Gostam muito também da participação da Ellen Oléria, costumam dizer que o repertório é diferente do que tem rolado em Brasília (e, sem nenhum risco de prepotência, gosto muito de ouvir isso) e gostam dos textos do encarte. Fora isso, ele ainda não chegou à nenhuma mídia. Estou começando a divulgá-lo. Já estou com uma banda ensaiada, pronta para o ataque, procurando um produtor, alô produtores!!! Creio que terei um novo feedback sobre o disco agora, tendo a honra de estar aqui no Eu Ovo. Aliás, obrigado pela oportunidade. Sou frequentador assíduo do blog.
Esse disco é de música pop, apesar de minhas canções quase não conterem refrões. Ele também dialoga com o rock e a música brasileira dita popular. Gostaria muito de receber os comentários dos leitores. Você que baixa, por favor comente. Essa é uma forma de agradecer pelo trabalho do Eu Ovo.

Foram muitas participações especiais no seu disco?
Foram participações mais especiais do que eu poderia imaginar. A começar pela Ellen Oléria, que é uma artista sensacional, generosa, que emprestou todo seu talento para enriquecer o disco. Tenho muito orgulho. Para mim, a música de Brasília está muito bem representada por ela. Cetro e coroa para Ellen. Também tem os baixos do André Vasconcellos, que tem uma sacação de música popular impressionante, entendeu tudo rapidinho. Tiago Rosback, monstro da bateria, Dillo Daraujo nas guitarras, teclados e diegeses, Leander Motta, na percussão, Cristiano Crispis na gaita, Moisés Alves, trompete, Ademir Junior, sax, Marcos Farias, acordeon, Dudu Maia, bandolim. Uma constelação e tanto para o Universo Para Leo. Sou muito grato por esse time de primeira. Aprendi demais com todos eles.
Além disso, minha turma também participou, fazendo um coro na última música: Haila Ticiany, May Bucar, Tiago Gasta, Alessandro Lustosa e Ana Flávia Garcia.

Quem produziu o disco? Como foi esse processo???
O disco foi produzido pelo Dillo Daraujo, um cara mega talentoso e mega profissional. Ele simplesmente foi essencial em todo o processo, assim como o Marcos Pagani, co-produtor, que acreditou no trabalho e apostou suas fichas nele. Primeiro entramos no estúdio com uma banda base, gravamos 13 canções, que era o material da pré-produção. A partir daí fomos criando os arranjos de base. Em seguida, gravamos a bateria do disco todo. Depois, o áudio foi enviado para o André, no Rio, para a gravação dos baixos. Depois, gravei todos os violões. Foi quando fizemos, eu e Dillo o restante dos arranjos, e os outros instrumentos foram colocados, finalizando com a voz.
Cortamos duas canções que consideramos um pouco fora do contexto do álbum e fechamos em 11. A escolha do repertório contempla todas as fases da minha jornada como compositor. Portanto tem músicas ali com mais de 15 anos de idade. Apesar de ser meu primeiro disco, é como se fosse uma coletânea de várias fases.

Como você vê essa questão de free-downloads?
Não creio que tenho alguma novidade para acrescentar a este importante tópico. Fico o tempo todo tentando imaginar uma forma do músico inovar em sua interação com o mundo, utilizando o download gratuito como ferramenta. A única coisa que sei é que é um processo que não tem mais volta, temos que conviver com download de músicas, e acho isso ótimo. Já sabemos que para os artistas de pouca visibilidade é de suma importância. Quanto aos consagrados, não precisam disso pra viver. Nunca precisaram. Eu, que me valho da internet para trabalhar, gostaria que o mundo inteiro baixasse meu disco de graça.
Tem muita gente achando que pode voltar no tempo e defendendo o fim dos downloads gratuitos. Outros tantos confundem compartilhamento com pirataria, não procuram se informar, ou não querem, enfim. Eu entendo que o jabá é algo muito mais imundo e devastador do que o compartilhamento de música pela internet. O jabá é responsável pelo enfraquecimento de toda uma enorme produção de qualidade em favor da música de massa, ou seja, o Brasil inteiro se empobrece culturalmente e não vejo ninguém combatendo isso! Falta discernir quem é o verdadeiro inimigo da cultura. E está na cara.

2011 Universo para Leo

1. Cavernas
2. Marcas (com Ellen Oléria)
3. O Trem
4. Frente fria, verso quente
5. Piano sem dó
6. Júbilo
7. Mensageiro
8. dEUs
9. Nunca mesmo
10. Star no céu
11. Inominável (com Tiago Gasta)

Abaixar

A VIOLÊNCIA ATACA

FOTO IMDB


POR QUE SERÁ ?
A violência mina, por todos os lençóis , texturas, e linguagens. e contextos.
A violência estÁ no olhar, no falar, na relação de poder. de governar , de administrar, no uso da ironia,enfim por todas as partes.

FOTO IMDB
Ela espoca também pelo álcool, pelo inconsciente, pelo represado,pelo amor/desamor.
E ainda achamos estranho crimes fatais e perversos, por que?
FOTO IMDB
Precisamos ter atenção no que fazemos e se não estamos emprestando violência, por exemplo, no tom da palavra, na falta de atenção ao outro, no trânsito, no trabalho, no uso do poder, na educação , na competição desvairada.
No consumo a violência se encontra presente.Fique atento.Nós produzimos violência e temos potência para exagerá-la.
Dê atenção ao outro,dê um bom dia, boa tarde, boa noite, seja gentil, cale por vezes, ouça, pondere e ative seu lado mais humano e menos animal.
Respeite os idosos, lembrem-se deles neste natal!!!!!!!!!!!
Por uma vida melhor!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti: Seria blasè e extremamente mentiroso dizer que não estou exultante com o fato do meu primeiro livro solo, A sordidez das pequenas cois...

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti

Alessandro Garcia: Do que eu falo quando falo de Jabuti: Seria blasè e extremamente mentiroso dizer que não estou exultante com o fato do meu primeiro livro solo, A sordidez das pequenas cois...

SERGIO SANTANNA POR OVERMUNDO

Resultado de imagem para sergio santana escritor
FOTO POR RASCUNHO



1Tacilda Aquino · Goiânia, GO
25/2/2007 · 183 · 5
No ano passado, "zapeando” os canais de TV, me deparei com a figura de Sérgio Sant’Anna numa entrevista em que falava de seu livro O Vôo da Madrugada. Fiquei ligada na conversa, que peguei pela metade, mas que despertou meu interesse por conhecer o autor mais profundamente. Na manhã seguinte não resisti e procurei informações sobre ele na Net e é claro, encontrei seu e-mail. Não resisti, escrevi falando que tinha visto a entrevista e tinha prometido a mim mesma a comprar o livro para ler e que, depois de lê-lo, gostaria de conversar com ele novamente. Talvez fazendo uma entrevista para o Jornal do Cerrado, da Universidade Estadual de Goiás (http://www.ueg.br), que tem uma edição eletrônica. Escrevi o e-mail assim, como se fosse metade jornalista e metade fã. Sérgio foi super simpático. Disse que estava viajando para o interior de São Paulo para visitar uma filha e que devia ficar por lá uma semana. Mas que eu podia mandar as perguntas que ele me responderia.

Uma semana e O Vôo da Madrugada "devorado", escrevi para o Sérgio, perguntando se ele se lembrava de mim e reforçando meu desejo de entrevistá-lo. Mandei as perguntas pela manhã, ainda no jornal e, para minha surpresa, quando cheguei em casa, por volta das 15 horas, ele já tinha respondido minhas perguntas.Sem me aprofundar muito em analisar o livro, reproduzo abaixo a conversa com Sérgio e aproveito o espaço para agradecer de público a sua simpatia. A seguir a entrevista, publicada originalmente no Jornal do Cerrado.


Prosa com a força da melhor poesia

O mundo só é verdadeiramente vivido quando pode ser narrado. Este bem podia ser o mote da obra de Sérgio Sant'Anna, escritor que, desde a sua estréia com O Sobrevivente, em 1969 (que lhe valeu a participação no International Writing Program, da Universidade de Iowa, EUA), vem quebrando regras, ampliando contornos, questionando agudamente os limites do conto, em busca de uma nova experiência do narrar. Um dos melhores escritores brasileiros da atualidade, Sérgio Sant’Anna, embora já tenha publicado poesia, peças de teatro, novelas e romances, se considera um contista. E foi justamente o livro de contos O Vôo da Madrugada que me levou a entrevistar o escritor carioca que já teve alguns de seus trabalhos levados às telas de cinema. O livro em questão valeu a seu autor o prêmio Jabuti e nele Sérgio Sant'Anna constrói uma escrita da busca apresentando ao leitor contos concisos em sua estrutura, mas que se bifurcam em múltiplas leituras.

Como a literatura se beneficia da transposição de suas obras para a tela? Ela ajuda a vender cópias de suas obras, por exemplo?

No caso de A Senhorita Simpson – Bossa Nova não houve benefício algum, até porque a história que o Bruno (Barreto) filmou quase não tem a ver com minha novela. Não me identifico nem um pouco com o filme. Já Crime Delicado, de Beto Brant, adaptado de meu romance Um Crime Delicado, além de ser um filme belo e perturbador, tem muita coisa em comum com o livro, com o seu espírito, é claro que com algumas diferenças. A crítica, em geral, tem sido extremamente favorável à obra de Brant e sua equipe. A Companhia das Letras lançou uma nova edição junto com o lançamento do filme e, pelo que sei, está vendendo bem. Também no festival de Sundance, nos Estados Unidos, no final de janeiro do ano passado ( 2005), havia um filme, La muerte es pequeña, adaptado de um conto meu, Estranhos (incluído em meu Contos e Novelas Reunidos), e filmado por Fellipe Barbosa, um jovem de vinte e cinco anos que estuda na Columbia University, Nova York. Um ótimo curta-metragem.

Você ficou seis anos sem publicar. Foi esse tempo que você levou para escrever Vôo da Madrugada ou fez outras obras neste período?

Eu demoro mesmo muito tempo para escrever, não tenho pressa. E os contos foram saindo muito devagar. E no meio desses seis anos, trabalhei numa reedição de meu livro de poemas, Junk Box, uma máquina de versejar, lançado pela Dubolso, MG, com belíssima programação visual e ilustrações de Sebastião Nunes.

O Vôo da Madruga tem certos contos que parecem exemplares da tão propagada literatura fantástica apreciada pelos autores latino-americanos. Você os escreveu conscientemente ou eles foram sendo criados instintivamente?

Na verdade não gosto de literatura fantástica, e pelo que me lembro apenas o conto título, O Vôo da Madrugada, além de A Barca na Noite, têm essa característica. Mas talvez essa impressão tenha sido causada pelo tema da morte e pode ser que eu tenha me esquecido de algum conto que possa se enquadrar no gênero. Mas é um gênero que não cultivo. Fui apenas seguindo a minha luz.

O conto que dá título ao livro impressiona pela incursão que você faz à alma do personagem e da sua tremenda e desesperada solidão. A bela que viaja ao lado dele na madrugada é fruto desta solidão? Ou ela realmente esteve lá?

Deixei em aberto essa questão da identidade da mulher. Talvez eu não goste do termo fantástico porque está muito ligado a um estereótipo latino-americano. Digamos que esse conto tem a ver com as histórias extraordinárias de Edgar Allan Poe, um autor que aprecio muito.

O Vôo da Madrugada tem os mais diversos tipos de personagens. No entanto, a gente percebe pontos comuns entre eles, como as obsessões com temas como morte e angústias. São suas obsessões que você transporta para os personagens?

Esse foi um livro particularmente cheio de angústias e obsessões com a morte. A morte como tema esteve muito presente na primeira parte do livro. Já na parte final, a que mais gosto, Três textos do olhar, é Eros que predomina, a arte, a visualidade, a paixão pela figura da mulher.

O que lhe dá mais prazer escrever: romance, contos? Como você avalia as limitações dos romances nacionais atualmente? Ou isso é mera análise do mercado editorial, ou seja, das próprias editoras?

Eu gosto mais de escrever contos, porque estão mais de acordo com certas experimentações com a linguagem que gosto de fazer. Gosto também de histórias de tamanho médio, e atualmente rascunho uns três que têm esse formato. Aliás, publiquei dois livros com esse formato de histórias de tamanho médio: Breve História do Espírito e O Monstro, ambos pela Companhia das Letras. E, decididamente, não sou um cara de escrever romances longos, com muitos personagens. Nem posso dizer se há crise do gênero romance no Brasil, não parei para pensar sobre isso.

Quais são os principais recursos de um ficcionista? O que não pode faltar em uma boa obra de ficção?

Penso que não podem faltar a imaginação e o trabalho com a linguagem.

Lendo O Vôo da Madrugada a gente tem a impressão de que você está tentando exorcizar alguma coisa... Talvez uma fase da carreira literária para dar início a uma outra. Isso é verdade, quer dizer, você faz exorcismo pessoal no livro?

Eu não sei se quis exorcizar alguma coisa, escrevi o que havia em mim. Mas algo é certo: o que estou escrevendo neste preciso momento é muito diferente de O Vôo da Madrugada. Até porque o humor está de novo muito presente, como em outros livros meus, ainda que, várias vezes, humor negro. Em O vôo..., esse humor (negro) está presente principalmente na novela O Gorila.

Alguns de seus personagens fictícios se apresentam como narradores, tomando a pena nas próprias mãos e escrevendo seus relatos. Noutras vezes, você parece se expor apresentando-se como o contista e dando um tom íntimo, por assim dizer, ao texto. Como é fazer essa transição?

Na ficção o narrador é muitas e muitas vezes um personagem. Falar na primeira pessoa não quer dizer que a pessoa está escrevendo uma história real. Às vezes o autor pode até esconder com a terceira pessoa um acontecimento real. Quando eu me refiro ao contista, creio que estou me referindo a mim mesmo na terceira pessoa. O que não quer dizer que eu tenha de ser absolutamente fiel à realidade. Uma das coisas boas da ficção é que você pode inventar o que quiser, até um outro eu para você.

Fiquei muito impressionada como Um Conto Abstrato, que você apresenta como "Um conto de palavras que valessem mais por sua modulação que por seu significado". Como é isso? E qual a diferença entre Um Conto Abstrato e Um conto obscuro?

Eu sempre quis escrever um conto abstrato. Um conto formal e bonito, em que as palavras tivessem o peso que as notas têm na música. Talvez seja o conto que eu mais goste na primeira parte do livro. A frase que você escreveu na pergunta define bem o conto. Já Um conto obscuro são muitos temas, que vão surgindo na história, ligados, creio, por um fio poético.

Dá para você fazer uma análise mais profunda de uma afirmação sua, que dá conta de que a literatura não é capaz de interferir imediatamente na realidade. Ela lida com a realidade em médio e longo prazo, criando realidades com sua liberdade?

Não me lembro mais em que contexto eu disse isso. Suponho que quis dizer que não se muda a realidade social e política com a literatura, sua contribuição para isso é muito modesta. Mas cada obra de arte é uma realidade nova, uma contribuição à cultura de um país, e talvez seu maior papel seja esse.

Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr. CartaCapital relata o que há no livro 08/12/2011 | Redação Carta Capital | 39

Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr. CartaCapital relata o que há no livro 08/12/2011 | Redação Carta Capital | 39 Comentários
Não, não era uma invenção ou uma desculpa esfarrapada. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. realmente preparava um livro sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana chega às livrarias “A Privataria Tucana”, resultado de 12 anos de trabalho do premiado repórter, que durante a campanha eleitoral do ano passado foi acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e tornou-se involuntariamente personagem da disputa presidencial.


'A Privataria Tucana', de Amaury Ribeiro Jr.
Na edição que chega às bancas nesta sexta-feira 9, CartaCapital traz um relato exclusivo e minucioso do conteúdo do livro de 343 publicado pela Geração Editorial e uma entrevista com autor (reproduzida abaixo). A obra apresenta documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização.

Ribeiro Jr. elenca uma série de personagens envolvidas com a “privataria” dos anos 1990, todos ligados a Serra, aí incluídos a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado. Mas quem brilha mesmo é o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-tesoureiro de Serra e FHC, Oliveira, ou Mister Big, é o cérebro por trás da complexa engenharia de contas, doleiros e offshores criadas em paraísos fiscais para esconder os recursos desviados da privatização.

O livro traz, por exemplo, documentos nunca antes revelados que provam depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI, na conta de uma companhia de Oliveira nas Ilhas Virgens Britânicas. Também revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta do mesmo Oliveira. Segundo o livro, o ex-tesoureiro de Serra tirou ou internou  no Brasil, em seu nome, cerca de 20 milhões de dólares em três anos.

A Decidir.com, sociedade de Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, também se valeu do esquema. Outra revelação: a filha do ex-governador acabou indiciada pela Polícia Federal por causa da quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros. Por meio de um contrato da Decidir com o Banco do Brasil, cuja existência foi revelada por CartaCapital em 2010, Verônica teve acesso de forma ilegal a cadastros bancários e fiscais em poder da instituição financeira.

Na entrevista a seguir, Ribeiro Jr. explica como reuniu os documentos para produzir o livro, refaz o caminho das disputas no PSDB e no PT que o colocaram no centro da campanha eleitoral de 2010 e afirma: “Serra sempre teve medo do que seria publicado no livro”.

 

CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?

Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo, tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.

CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?

ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence, contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.

CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?

ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da PF).

CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?

ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.

CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?

ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.

CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?

ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.

CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?

ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.

CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?

ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.

CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.

ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.

Tags: José Serra, livro do Amaury Ribeiro Jr.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Porque o poder da Mídia?

A emissoras de Rádios e Tv no geral conclamam para depoimento pessoas, pesquisadores do eixo RIO E SÃO PAULO e agora BRASÍLIA?( diga-se das Universidades como se outras regiões não tivessem universidades e pesquisadores de alto nível, e as instituições aliás muito bem avaliadas)
Porque será?
Porque a colonização continua do sudeste maravilha, centro oeste o poder político.
A CBN, é craque nisto bem como a Band, a Globo Tv , nem se fala, mas precisam da audiência do Norte, Nordeste e Sul e nos ficamos sendo os colonizados e ignorantes do que ocorre no Norte, Nordeste e Sul.
Isto CHAMA-SE CENSURA , assim por UM CONTROLE DA MÍDIA COMO ELES SABEM BEM FAZER.
Não basta os oligopólios das TVS, agora do rádio.
Abaixo este poder!
CONTROLE DA MÍDIA JÄ!!!!!!!!!!

*A cartilha "O Olho do Consumidor"

Cartilha do Ministério da Agricultura : " O Olho do Consumidor" sobre orgânicos e com arte do Ziraldo

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*Liminar concedida à MONSANTO recolhe cartilha sobre produtos orgânicos -
VAMOS DISTRIBUIR? *



*A cartilha "O Olho do Consumidor" foi produzida pelo Ministério da
Agricultura, com arte do Ziraldo, para divulgar a criação do Selo do SISORG
(Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica) que pretende
padronizar, identificar e valorizar produtos orgânicos, orientando o
consumidor. Infelizmente, a multinacional de sementes transgênicas Monsanto
obteve uma liminar em mandado de segurança que impediu sua distribuição. O
arquivo foi inclusive retirado do site do Ministério (o link está "vazio").*
*

**Em autêntica desobediência civil e resistência pacífica à medida de força,
estamos distribuindo eletronicamente a cartilha.**

Se você concorda com esta idéia, continue a distribuição para seus amigos e
conhecidos.*

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Nicanor Parra gana el premio Cervantes

A los 97 años, el “antipoeta” chileno Nicanor Parra gana el premio Cervantes

Es considerado el galardón más importante de la literatura hispanohablante. El año pasado había sido para la española Ana María Matute. Borges, Sabato, Bioy Casares y Juan Gelman fueron los cuatro argentinos que también lo obtuvieron.

El chileno Nicanor Parra fue galardonado hoy con el Premio Cervantes 2011, un reconocimiento que le llega a los 97 años por "toda una vida dedicada a la poesía", en la que ha destacado por crear nuevos y diferentes lenguajes y la conocida como "antipoesía".

Así lo destacaron hoy, tras dar a conocer el fallo, tanto la ministra de Cultura, Ángeles González-Sinde, como la presidenta del jurado, Margarita Salas, primera mujer que ocupa este puesto desde la creación del premio, hace 36 años.

Tras ocho votaciones, el chileno fue apoyado por la mayoría de los miembros del jurado, que respetaron la ley no escrita de que cada año se conceda alternativamente a un escritor hispanoamericano y a un español.

En 2010 fue la catalana Ana María Matute la que obtuvo este prestigioso premio, considerado el más importante de los que se conceden en habla hispana.

La ministra de Cultura consideró hoy una "gran fortuna" que Parra pueda recibir este reconocimiento en vida y destacó el hecho de que el galardón haya sido concedido a un poeta, ya que "la vocación de escribir poesía es más exigente que otros géneros".

Por eso, dijo, es un mensaje muy positivo, tanto para los seguidores de Parra como para otros poetas. En el momento de hacer público el fallo, todavía el galardonado no se había enterado. "No le hemos localizado, no contestaba el teléfono", explicó la ministra.

González-Sinde expresó su confianza en que Parra pueda acudir personalmente a recoger el galardón el próximo 23 de abril y recordó que hace quince días estuvo en Oporto con Manuel de Oliveira, que tiene 102 años, "y estaba hablando de su próximo proyecto y del siguiente". No obstante, indicó que deberá ser el poeta el que decida si viaja a España.

La presidenta del jurado, designada por la Real Academia Española, resaltó también la faceta de físico y matemático del nuevo premio Cervantes y recordó que su obra poética es muy estudiada y ha sido objeto de numerosas tesis doctorales.

También se refirió al hecho de ser ella la primera mujer que preside el jurado que concede el Cervantes, una ocasión que espera que se repita en el futuro con otras mujeres.
La ministra de Cultura destacó el prestigio de Margarita Salas independientemente de su sexo, aunque se refirió a la importancia de que las mujeres ocupen puestos de responsabilidad.

El jurado ha estado integrado también por Gerardo Piña-Rosales, José María Micó, Olvido García Valdés, Rosa Regás, Francisco Giménez Alemán, Marta Rojas y Ruth Viviana Fine.

Fuente: Agencias


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A MENTIRA DAS REDES SOCIAIS





PORTAL CORREIO



Os Franceses são expert no conceito de alteridade, inclua-se aqui Phillipe Breton, D. Wolton e por assim ser, eles criticam desde a internet a aquilo que se carnavalizou em chamar de- REDES SOCIAIS-pois não se aplica o tal conceito de alteridade.

O FACEBBOK por exemplo fatura com sua denominação de rede social, que não é, mas crava-nos regras bobas de limites de convites castigando o usuário por exceder os convites.Que rede social é esta?A desculpa são spans.

Isto é a brincadeira dos BOYS Americanos, incluso um Brasileirinho americanizado, que inventaeam o Face e daí nos submetemos como bestas humanas por ter um exército de pessoas que você nã conhece e pode estabelecer contato e fazer seu maketing,ou mesmo reatar velhos amigos, e assim insistimos em admitirmos sermos estas bestas carregadas por esta carroça destes americanos do além.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O DIREITO DO CONSUMIDOR

Precisamos estar mais atentos aos nossos direitos.Cidadania se faz assim, não é apenas com voto, o voto no dia a dia é o exercício dos seus direitos, entre eles o do consumidor.Os grandes capitalistas das Indústrias precisam aprender uma lição de respeito para quem dar lucro a eles e para futuros consumidores .Fique atento, defenda, brigue pelos seus direitos, isto faz diferença a uma sociedade.
Leia seus direitos no Código de Defesa do Consumidor, não deixe passar fagulha.Eles te mandam para o Serasa, por fagulhas, portanto devolvemos com o mesmo .
Leia o rótulo dos seus produtos, reclame, cri caso, seja exigente.
Vivemos numa sociedade do CONSUMO, e para isto temos que ser atentos e fortes, não temos tempo de temer a eles, parodiando Caetano.
Ponha a boca no Trombone.As chamadas Redes Sociais, são para isto,fale denuncie.
O meu , o nosso direito, ninguém toma.Fique atentíssimo, e assim tentamos fazer uma democracia.
Seus direitos trabalhistas idem, faça valê-los na integra, não vacile, são seus os direitos, cobre, cobre na mesma medida que os patrões nos cobra e a vezes em duplicidade.
No meu caso , a última briga foi com a SAMSUNG E SUBMARINO.Não cansarei em denunciá-los.Meu dinheiro tem origem de força de trabalho, stress e prontidão.

sábado, 5 de novembro de 2011

PRÊMIO INTERNACIONAL POESIA AO VÍDEO

POR FLIPORTO


O curador da Fliporto, Antônio Campos, a coordenação e a comissão julgadora têm a alegria de comunicar o resultado da quinta edição do PRÊMIO INTERNACIONAL POESIA AO VÍDEO, ao tempo em que parabenizam a todos e agradecem pela bela campanha empreendida pelos concorrentes em 48 horas de votação. A votação encerrou, mas a Festa está apenas começando. Deixamos aqui o convite para a grande confraternização que aconterá na tradicional Festa de Prêmios que será transmitida ao vivo para a Internet.
Data: 15 de novembro de 2011.
Hora: a partir das 14h
Local: Instalações da Fliporto Digital. Biblioteca Pública de Olinda‎. Avenida Liberdade, 100 – Praça do Carmo, Olinda – PE, 53020-030

EDIÇÕES CONCORRENTES 2011

EDIÇÕES CLASSIFICADAS

1˚ LUGAR: Niti Merhej (editor responsável),SP, “O Carteiro e a Poeta”, poema de Niti Merhej – 34074 (40.4%)
2˚ LUGAR: Eliane Garcia (editor responsável), RJ, “Eu não escrevo versinhos para o papai”, poema de Maira Parula – 28965 (34.34%)
3˚ LUGAR: Cátia Cunha e Silva (editor responsável), Portugal, “A Tristeza”, poema de João Negreiros – 13915 (16.5%)
4˚ LUGAR: Gustavo da Silva Monteiro (editor responsável), PE, “Os ossinhos no baú”, poema de Gustavo da Silva Monteiro – 3186 (3.78%)
5˚ LUGAR: Maria das Graças Carpes (editor responsável), RJ, “Dentro e Fora”, poema de Maria das graças Carpes – 2161 (2.56%)
6˚ LUGAR: Ricardo Sêco (editor responsável), SP, “Ela amava as coisas”, poema de Heitor Ferraz Mello – 830 (0.98%)
7˚ LUGAR: Eliana Mora (editor responsável), MG, “Ele nasce de um amor desconhecido”, poema de Eliana Mora – 650 (0.77%)
8˚ LUGAR: Victor Dreyer (editor responsável),PE, “Somos a cor e o som do português”, poema de Victor Dreyer – 298 (0.35%)
9˚ LUGAR Lucia Helena Ramos: (editor responsável), RJ, “Penélope”, poema de Lucia Helena Ramos – 147 (0.17%)
10˚ LUGAR Rui Werneck de Capistrano: (editor responsável),PR, “Deixe Passar”, poema de Rui Werneck de Capistrano – 115 (0.14%)

EDIÇÕES CONCORRENTES

Alexander Lima, SP , “OLHODOLHO”; Alexandre José Lira de Morais, PE, “LIBERDADE CONDICIONAL”; Ana Cristina Cesar, RJ, “APONTAMENTOS SOBRENATURAIS”; Ana Cristina Mendes Gomes, RJ , “AOS DISTRAÍDOS!”; Andeson Matias, PE, “BANQUETEAR-SE”; Bernardo Luis Frota Vieira, RS, “ELFA”; Beto Miranda, PE, “MINHA CASA, MINHA VIDA”; Bruna Martins, SP, “AMOR ECOLÓGICO”; Bruno Borja, RJ, “FURTA-TE”; Cátia Cunha e Silva, PT, “A TRISTEZA”; Cristovam Tadeu Martins, SP, “LÁGRIMA”; Danielle Sibonis, RS, “FECHEI TODAS AS PORTAS”; Davi de Carvalho, CE, “EPIDERME”; Eliana Ferreira de Castela, MG, “AS PENÉLOPES URBANAS NÃO TÊM AJUDA DOS DEUSES”; Eliana Mora, MG, “ELE NASCE DE UM AMOR DESCONHECIDO”; Eliane Garcia, RJ, “EU NÃO ESCREVO VERSINHOS PARA O PAPAI”; Felipe Cerquize, RJ, “SONETO PARA DEUS”; Flávio Machado, RJ, “IMPROVISO”; Gustavo Monteiro, PE, “OS OSSINHOS NO BAÚ”; Gustavo Stresser Costa, PR, “PALAVRA FECUNDADA”; Guy Santos, PB, “AMOR BARATO”; Haroldo Abrantes, BA, “ÁGUA”; Israel Costa, PE, “POETA”; Jô Serfaty, RJ, “ESTAÇÃO DA CARIOCA”; João Negreiros, PT, “ÉPICO COMO O TEU ROSTO”; Jorge Carlos Amaral de Oliveira, RJ, “CANDELÁRIAS”; Larissa Daiane Pujol, RS, “INCONTINGENTIA LEGENDAE”; Luanda Achôa, SP, “QUANDO”; Lucia Helena Ramos, RJ, “PENÉLOPE”; Marcello Silva, PE, “TSUNAMI HUMANO”; Maria das graças Carpes, RJ, “DENTRO E FORA”; Nathalia Wigg, RJ, “HOJE”; Niti Merhej, SP, “O CARTEIRO E A POETA”; Raul dos Santos Neto, MG, “ESSA MULHER”; Renan Lélis, SP, “ROSA DO MORRO”; Ricardo Sêco, SP, “ELA AMAVA AS COISAS”; Ronaldo de Oliveira Silva, SP, “BANDEJÃO”; Rui Werneck de Capistrano, PR, “DEIXE PASSAR”; Sarah Castelo Branco, BA, “O QUE NASCE COMIGO”; Sonia Pires, PE, “VIAGEM”; Thiago Baldissera Damião, PR, “O PONTO DE ÔNIBUS”; Vera Passos, BA, “VERTIGEM”; Victor Dreyer, PE, “SOMOS A COR E O SOM DO PORTUGUÊS”; Yuri J. Manique, PE, “ARMAS EM JOGO”

Créditos do 5º Prêmio Internacional Poesia ao Vídeo
Gestor: Antônio Campos
Comissão Julgadora: Antônio Campos, Haidée Camelo, Alexandre Figueirôa
Equipe Técnica: Felipe Marques e Rodrigo Coutelo
Monitoramento: Andréia Caroline Pereira de Oliveira
Criação, edição e coordenação: Cláudia Cordeiro

Vem aí o Ano Jorge Amado 18.08.2011 - Isabel Coutinho

POR IPSILON PT



Em 2012, comemora-se o centenário do nascimento de Jorge Amado e passam 110 anos do nascimento de Drummond de Andrade. No Brasil, prepara-se um filme, exposições e novas edições

Uma carta inédita que Jorge Amado (1912-2001) escreveu para Zélia Gattai, de Paris, em 1948, quando o militante do Partido Comunista Brasileiro estava no exílio, pode ser lida em Blog da Companhia, o blogue da editora brasileira que desde 2008 publica a obra do escritor baiano. "Minha negra querida: toda a saudade do mundo. Há uma semana que não tenho cartas tuas. Recebi recortes de S. Paulo, pela letra conheci terem sido enviadas por ti, donde depreendi que já estavas em S. Paulo. Mas depois da carta começada no sítio e terminada no Rio, não recebi nenhuma outra e estou preocupado." Faz parte do livro Jorge & Zélia, que será publicado em Agosto de 2012, e foi divulgada no blogue para assinalar o início da apresentação das comemorações do Ano Jorge Amado na semana em que o baiano faria 99 anos de idade.

"A ideia é que este ano não acabe nunca", brincou Cecília Amado, neta do escritor, durante a conferência de imprensa onde foi apresentado o programa. Ela é a realizadora e a argumentista do filme Capitães da Areia, baseado no livro homónimo que o seu avô escreveu em 1937 e que é um dos pontos altos das comemorações. O filme (www.capitaesdaareia.com.br) deverá ser apresentado pela primeira vez no Festival do Rio e estreia comercialmente no Brasil a 14 de Outubro, ainda no decorrer do festival, que se estende de 6 a 18 de Outubro. O produtor português Tino Navarro, da MGN Filmes, é co-produtor desta longa-metragem que tem participação da RTP e apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual. Estreará nas salas portuguesas em Novembro, ainda sem data definida, mas com estreia tão próxima do Brasil quanto possível.

Os actores, que interpretam Pedro Bala, Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e Dora têm entre 12 e 16 anos e foram escolhidos pela realizadora em várias ONG de Salvador que trabalham com dança, capoeira e teatro. Numa entrevista ao jornal O Globo Cecília Amado explicou que não seguiu o livro à risca. "Muitas histórias estão resumidas num olhar, numa personagem", disse Cecília, que escolheu Carlinhos Brown para a banda sonora deste seu primeiro filme.

Para Tino Navarro, o filme traz o "olhar de quem acredita que as pessoas são boas naturalmente e que é a fome e a exclusão que as leva a praticar actos menos dignos". Mesmo quando o fazem "não perdem a dignidade." Lembra que é a visão tradicional do neo-realismo de raiz de esquerda, que reproduz a luta de classes, os conflitos internos no grupo das crianças e é também um olhar que as mostra como vítimas da sociedade, sem que se deixe de ter esperança neles. "Ao contrário de outros filmes que foram sendo feitos sobre a realidade brasileira e já não têm esse olhar, que é hoje mais cínico e mais desencantado", afirma o produtor.

Samba & fotografia

Outro dos momentos mais importantes que marcarão o centenário do nascimento do autor de Gabriela, Cravo e Canela - livro de 1958 que dará origem também a um musical encenado por João Falcão - é a exposição Jorge, Amado e Universal que em Março ocupará parte do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, onde ficará até Julho. Irá depois para o Museu de Arte Moderna de Salvador até Outubro de 2012 e passará ainda por Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e três países estrangeiros, ainda não revelados. O curador da exposição é o director do Instituto Brasil Leitor, William Nacked. A exposição terá quatro temas: Jorge por Jorge,Jorge por Terceiros, Jorge Internacional e A Produção de Jorge.

Na editora brasileira Companhia das Letras sairá a versão ilustrada das suas memórias, Navegação de Cabotagem (1992), com fotografias que a artista suíça Hildegard Rosenthal fez do escritor, que começou a trabalhar aos 14 anos como jornalista do Diário da Bahia, e com apenas 18 anos publicou o seu primeiro romance,O País do Carnaval. E ainda sairá o primeiro volume do Catálogo Fotográfico de Zélia Gattai - A Casa do Rio Vermelho, que tornará públicas mais de mil fotografias do escritor com a família em Salvador. Em Portugal, a Dom Quixote publicará novas edições dos livros mais emblemáticos do autor de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966), tal como já fez com Os Subterrâneos da Liberdade (1954).

Em Fevereiro, Jorge Amado será tema da escola de samba do Rio de Janeiro, Imperatriz Leopoldinense, e também tema do Carnaval de Salvador. Na próxima segunda-feira inicia-se o Curso Jorge Amado 2011 - I Colóquio de Literatura Brasileira, promovido pela Academia de Letras da Bahia e pela Fundação Casa de Jorge Amado. E em breve estará a funcionar o portal http://www.centenariojorgeamado.com.br com toda a programação do centenário.


João Ricardo Pedro vence Prémio LeYa 2011 18.10.2011 - Isabel Coutinho e Cláudia Carvalho

por ipsilon PT
"O teu rosto será o último" é o romance de estreia do escritor

O escritor João Ricardo Pedro é o vencedor do prémio LeYa 2011, com o romance "O teu rosto será o último", anunciou hoje o júri, presidido por Manuel Alegre, em Alfragide no edifício sede da editora.

Depois de no ano passado, o júri ter decidido não atribuir o prémio, invocando falta de qualidade dos textos apresentados a concurso, João Ricardo Pedro torna-se no terceiro escritor distinguido com o prémio, ao qual concorreram este ano 162 romances. "O teu rosto será o último" é o livro de estreia do autor, que não tinha até agora nenhuma obra editada, tendo sido escolhido por maioria. "É a minha primeira obra, a minha primeira tentativa de fazer qualquer coisa", diz ao PÚBLICO João Ricardo Pedro, revelando que estava confiante numa vitória. "Se não estivesse à espera, não tinha concorrido."

"É um livro arriscado e que facilmente toca as pessoas que o lêem e acho que o júri foi tocado", continua o escritor, que achava que podia ganhar, notando no entanto que não leu nenhuma das outras obras a concurso.

O júri foi constituído pelos escritores José Castello, Nuno Júdice e Pepetela; o professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, José Carlos Seabra Pereira; Lourenço do Rosário, reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo; e Rita Chaves, crítica literária e professora da Universidade de São Paulo.

O Prémio Leya foi criado em 2008 no sentido de distinguir um romance inédito escrito em português.

O prémio, de 100 mil euros - e que é o maior em valor pecuniário no domínio da literatura de expressão portuguesa -, foi criado em 2008 com o objectivo de distinguir um romance inédito escrito em português. Nas duas primeiras edições foi conquistado pelo brasileiro Murilo Carvalho, com a obra "O Rastro do Jaguar" (2008), e pelo moçambicano João Paulo Borges Coelho, com "O Olho de Hertzog" (2009).

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O modernismo visto do avesso

por FOLHA DE SÃO PAULO LEIA MAIS LÁ

Fischer e os pontos cegos na obra de Antonio Candido

RESUMO Para crítico gaúcho, ler a "Formação da Literatura Brasileira" à luz da bibliografia recente evidencia seus "pontos cegos": a ancoragem em São Paulo, Minas e Rio; a redução de Machado de Assis ao "instinto de nacionalidade"; e a omissão de significativas realidades econômicas e culturais do interior do país.

RAFAEL CARIELLO

A história da literatura brasileira, tal como é ensinada nos manuais e reproduzida na universidade, arma-se sobre uma lógica "centralista, centrípeta e excludente", traços que partilha com a organização política e econômica do país, afirma Luís Augusto Fischer, 53. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele é um dos principais nomes da nova geração de críticos literários no Brasil.
É preciso, portanto, reescrevê-la, conclui o autor de "Literatura Brasileira: Modos de Usar" (L&PM) e "Machado e Borges" (Arquipélago). O modelo (e ao mesmo tempo grande adversário) de sua empreitada é a obra canônica sobre a constituição de um sistema literário no Brasil desde o século 18, a "Formação da Literatura Brasileira", do crítico Antonio Candido, 93.
Fischer, que se diz um "candidiano", enxerga "pontos cegos" na análise do mestre, "centrípeta e centralista", por ler a constituição da tradição literária no país do ponto de vista de São Paulo e, mais exatamente, do modernismo de Mário e Oswald de Andrade. Para superá-la, o gaúcho se vale da historiografia recente, que mostra um país, na colônia e no império, mais complexo e plural do que aquele que emerge das análises de uma economia monoliticamente escravista e agroexportadora, até o século 19. Nesse panorama social distinto, usa os instrumentos analíticos de Candido e busca sistemas "regionais" e nacionais que articulem obras, público e autores, para além do descrito na "Formação".



Em artigo recente, você afirma que a concepção de formação da literatura brasileira de Candido tem pontos cegos. Quais são alguns deles?
Primeiro, lembro que a "Formação da Literatura Brasileira" tem como subtítulo "Momentos Decisivos", em alusão ao arcadismo e ao romantismo. Então, o primeiro ponto cego ?presente, mas invisível no enunciado e inalcançável pela lente em ação- é outro momento decisivo, o modernismo: Candido só consegue armar sua equação crítica e seu ponto de vista por estar estabelecido no ângulo modernista de leitura do mundo.
Na introdução, está dito que o autor se identificou com o ponto de vista dos primeiros românticos e a partir disso releu aqueles momentos decisivos. Creio que a identificação só subsiste porque a visão do nacional por parte daqueles românticos tem muito a ver com a dos modernistas paulistas, ambos relendo o país, sua literatura, a representação da vida nacional, a fim de constituir uma interpretação nova do Brasil.

E quanto a Machado de Assis?
Machado é outro ponto cego, não porque Candido não soubesse de sua importância formativa e excelência estética, mas porque não dispunha do instrumental teórico capaz de descrevê-las (esta teoria será construída por seu discípulo Roberto Schwarz, na esteira do mestre e com lente adorniana).
Talvez se deva dizer que Machado é um ponto cego por ser o ponto de fuga da armação conceitual, no sentido geométrico. Ao conceber a "Formação", Candido estava identificado com o Machado do "Instinto de Nacionalidade", que estabeleceu uma perspectiva evolucionista ao declarar que uma literatura não tem "grito do Ipiranga": se faz aos poucos. Em sentido estrito, os dois pontos cegos mais relevantes, a meu juízo, são os que dizem respeito a totalidades que Candido naturaliza: Brasil e Europa. Onde se lê Europa, no livro, quase sempre se deve ler França. Embora fosse o farol da cultura letrada brasileira, não era a única fonte do pensamento. Basta ver Machado, que deu o salto decisivo de sua carreira pela emulação do romance inglês.
Onde se lê Brasil, estamos lendo de fato Rio e Minas, a partir de São Paulo, porque as variedades de fora deste circuito são apagadas.

Por quê?
Em atitudes de vanguarda, há pouco espaço para sutilezas, e os dois pontos de apoio histórico de Candido (o romantismo, de modo deliberado, e o modernismo paulista, implícito) são de feição vanguardista, ao menos em um ponto: são processos com empenho ideológico, literatura a serviço de causas. No primeiro caso, definindo a nacionalidade autônoma no Rio; no segundo, a nacionalidade moderna em São Paulo.

Como se dá esse processo?
Veja o caso da naturalização do Brasil. Se tomarmos uma figura de referência por momento, Alencar e Mário de Andrade, os dois por sinal com grandes afinidades ideológicas, veremos que ambos julgam incorporar a variedade regional em sua obra -Alencar extensivamente, em vários romances, Mário intensivamente, em "Macunaíma". Nesses exemplos se vê que a ideia de Brasil estava encarnada na visão de seus talvez principais agentes, que se dispensavam, por assim dizer, de atentar para a difusa diversidade do país.
Pode-se armar uma equação representativa: o Machado crítico está para o romantismo, para Alencar, como o Candido da "Formação" está para o modernismo, para Mário de Andrade; e os dois conjuntos compartilham uma visão centralista, centrípeta, excludente, que está no DNA da organização do Brasil desde Portugal.

Há pontos cegos também no que se refere à historiografia ou à visão da história da Colônia e do Império em que se baseia Candido?
Vejo com interesse as interpretações de Jorge Caldeira. Sua "História do Brasil com Empreendedores" (2009) aprofunda a crítica a uma tradicional explicação do passado nacional, aquela posta de pé por Caio Prado Jr. Caldeira mostra que Prado Jr. generalizou uma visão da Colônia e do Império em que traços como escravismo e latifúndio, centrais na produção de açúcar e café em regime de "plantation", foram tomados como verdadeiros para o todo do país.
Ocorre que, nos diz esse autor, no vasto "hinterland" que se estendia de São Paulo para norte, oeste e sul, que por certo contava com escravidão e latifúndio, imperava uma organização muito diversa, baseada no que Caldeira, liberal sem temor ao nome, chama de empreendedorismo.
Não é só a velha dualidade entre sertão e litoral, ou sociedade de mercado e "plantation": este livro e o anterior "A Nação Mercantilista" mostram várias articulações entre as duas formações históricas e afirmam que 86% do PIB brasileiro às vésperas da Independência era mercado interno, contra 14% externo, e que a larga maioria da população era de homens livres.
É uma senhora alteração de perspectiva. Onde entra Candido nessa conta? O caso é que seu livro mais claramente voltado a uma descrição histórica, a "Formação", depende, mesmo indiretamente, daquela visão de Prado Jr. Em que medida? É preciso avaliar em detalhe. Mas me parece instigante pensar que a "Formação" é concebida a partir de São Paulo, mas versa sobre o passado literário ligado ao universo de Minas Gerais no período do ouro e ao mundo da "plantation" fluminense.
Nos termos de Caldeira, o ponto de vista histórico da "Formação" é aquele formulado na cidade-síntese do mundo empreendedor e com base na ideologia que melhor exprime esse mundo, o modernismo de combate, o modernismo de "Macunaíma"; mas o livro de Candido se ocupa do mundo cuja síntese é o Rio, a cidade que, como descreve Caldeira, é o oposto do mundo empreendedor, dominado pela mentalidade de gente que "se julga identificada com a modernidade, desde que haja garantias que ela seja um privilégio", em suas palavras, o mundo que Machado reprocessa criticamente em sua ficção e que Roberto Schwarz descreveu com precisão.

Que perspectivas se tornam possíveis ao considerarmos essa historiografia mais recente?
O modernismo paulista, tanto na produção literária quanto na crítica e na historiografia, homogeneizou descritivamente a cultura letrada brasileira ao custo de apagar diferenças relevantes. Creio que seja possível diagnosticar processos interessantíssimos de formação do sistema literário e cultural no país, que agora são invisíveis em função do monopólio modernistocêntrico. Muitas perguntas serão formuláveis, muitas descrições novas serão possíveis. Qual o tamanho dos sistemas não hegemônicos, que na pressa modernista ficaram reduzidos ao rótulo de "regionais"? Qual sua função? Qual sua capacidade de gerar leitores? Como funcionam os casos de formações não hegemônicas que partilham materialidade histórica e formas culturais com outras línguas e culturas?

Como responde a essas perguntas?
Pensemos no caso do Sul, com tanta identificação social e estética com os países do Cone Sul, ou na grande comarca da Amazônia. Qual o lugar de Monteiro Lobato no processo real de criação de leitores? Que peso teria a resposta a essa questão na avaliação do cânone escolar de hoje?
Qual o sentido de sua oposição ao projeto modernista, que ele viu nascer e crescer, mas não chegou a ver hegemônico? Qual o nexo entre a poesia moderna e a poesia simbolista, que é forte mas se tornou invisível pela militância exclusivamente antiparnasiana de Mário de Andrade?
Mais genericamente, o que poderemos dizer da criação letrada oriunda do mundo do "sertão"? Ele é igual ao do mundo da "plantation"? Ele fala a mesma língua, ao longo do tempo? Quer dizer: me parece que temos muito para pensar e descrever, em favor de deixar aparecer mais nitidamente a produção literária feita em língua portuguesa no Brasil: mais estilos, mais vozes, mais textos, mais práticas de leitura terão direito à existência no plano da crítica e da historiografia.

Como reavaliar a obra de Candido no contexto em que as ideias de "nação" e "nacional" parecem perder força?
Há um novo momento no que se refere à noção de nacional. No campo literário, a entrada em cena da internet tem consequências fortes. Muda a relação da produção literária e intelectual com as antigas demandas do nacional. O que não significa que tenha desaparecido. Para além de seus méritos como história e crítica, a "Formação" manterá sua vigência enquanto o projeto modernista tiver força. E ele a mantém. Basta ver a homenagem a Oswald na Flip deste ano, em que, com algum excesso, foi tido até como precursor dos tuítes. A flamante escritora argentina Pola Oloixarac declarou, tomada por aquela inveja que São Paulo dá nos portenhos descolados de hoje, que Oswald de Andrade foi "muito mais original" que Jorge Luis Borges, comparação que diz mais sobre a percepção da força de São Paulo até na sofisticada Buenos Aires do que sobre os autores implicados.

O primeiro ponto cego é o modernismo: Candido só consegue armar sua equação crítica e seu ponto de vista por estar estabelecido no ângulo modernista de leitura do mundo

Os dois pontos cegos mais relevantes são os que dizem respeito a totalidades que Candido naturaliza: Brasil e Europa. Onde se lê Europa, quase sempre se deve ler França

Vejo com interesse as interpretações de Jorge Caldeira. Sua "História do Brasil com Empreendedores" aprofunda a crítica a uma tradicional explicação do passado