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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Xadrez do fim do governo Bolsonaro

Não necessita falar muito, a matéria já explicita por si mesma o nível de ignomínias do falso líder e hoje segunda, 21.09.2019 -apedrejado pelos sindicalistas suíços no Forum de Davos. Eles pedem a morte de Bolsonaro!


Sindicalistas suíços pedem "morte a Bolsonaro" em ato contra Fórum Econômico →



Do nobre mestre Luiz B. L. Orlandi:
“Estou pensando neste artigo de um excelente examinador da situação política.
Prezadas e Prezados,
Um artigo do Luís Nassif, intitulado
Xadrez do fim do governo Bolsonaro
mostra que os Bolsonaro elevam a outro patamar o nível da corrupção na política brasileira, com prováveis ramificações nas milícias do Rio de Janeiro.
O artigo está aqui:
E aqui, um resumo dos fatos e dos números em jogo:
- No dia 07/01/2018, a Folha lançou as primeiras suspeitas sobre Flávio. Identificou 19 operações imobiliárias dele na zona sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca.
- Novembro de 2010, uma certa MCA Participações, que tem entre os sócios uma firma do Panamá, adquiriu 7 de 12 salas de um prédio comercial, que Flávio havia adquirido apenas 45 dias antes. Conseguiu um lucro de R$ 300 mil.
- 2012, no mesmo dia Flávio comprou dois apartamentos. Menos de um ano depois, revendeu lucrando R$ 813 mil apenas com a valorização.
- 2014 declarou à Justiça Eleitoral um apartamento de R$ 566 mil. Em 2016 o preço foi reavaliado para R$ 846 mil. No fim do ano, a compra foi registrado por R$ 1,7 milhão. Um ano depois, revendeu por R$ 2,4 milhões. Isso é que é talento imobiliário.
Movimentações bancárias atípicas postas em evidência pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) a pedido do Ministério Público do RJ:
- Segundo o jornal O Globo, o famoso e oculto segurança de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, movimentou R$ 7 milhões em sua conta em três anos. Vejam:
- Queiroz depositou dez cheques de 4 mil reais na conta de Michele Bolsonaro. A alegação do capitão de que era uma dívida contraída com ele e que ele não tinha tempo para ir ao banco é de uma inquietante estupidez: Queiroz poderia ter feito o depósito em nome de Bolsonaro, sem perda de tempo do creditado.
- Flávio Bolsonaro recebeu 96 mil reais a partir de depósitos em dinheiro de 2 mil reais no caixa automático da Assembleia Legislativa Estadual do Rio de Janeiro (ALERJ), aparentemente parte da operação "rachid" ou "rachadinha", em que funcionários dos gabinetes da ALERJ pagavam pedágio ao primogênito, com devolução de parte de seus salários. Para quem não leu, eis o link do artigo do Estadão:
- E há, enfim, esse misterioso pagamento, por Flávio Bolsonaro de um título bancário da Caixa Econômica Federal no valor de R$ 1.016.839. Sem destinatário identificado...
Veremos o que a Receita Federal terá a dizer sobre tudo isso...
Milícias:
Sobre o envolvimento dos Bolsonaro com as milícias e grupos de extermínio, o artigo de Luís Nassif fornece várias linhas de evidência e quadros sinóticos, impossíveis de resumir.
Limito-me a transcrever dois trechos de dois discursos singelos de Jair Bolsonaro, quando eleito deputado federal, proferido na Câmara dos Deputados Federais, em 2003 e em 2008, nos quais ele defende a entrada das milícias no RJ:
12/VIII/2003:
Eleito deputado federal, em 12/08/2003, Jair Bolsonaro proferiu discurso na Câmara defendendo a entrada das milícias no Rio de Janeiro.
Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um Parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas.
Segundo discurso, 17/XII/2008:
No dia 17/12/2008, outro discurso defendendo os milicianos das críticas de Marcelo Freixo, do PSOL, marcado para morrer.
Nenhum Deputado Estadual faz campanha para buscar, realmente, diminuir o poder de fogo dos traficantes, diminuir a venda de drogas no nosso Estado. Não. Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes.
- Sobre Flávio Bolsonaro:
"eleito deputado estadual em 2007, com 43.099 votos, Flávio Bolsonaro passou a integrar a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio. Na época, foi visto com uma camiseta com os dizeres "Direitos Humanos, a excrescência da vagabundagem”.
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Em suma, a tese central do artigo de Luís Nassif é que os militares não vão querer assumir o desgaste dos escândalos de corrupção e das simpatias declaradas e prováveis interações dos Bolsonaro com as milícias. Bolsonaro foi útil. Agora, o capitão virou um fardo e não tem mais serventia. Luís Nassif defende bem sua hipótese no artigo. Vale a pena lê-lo. Se non è vero, è ben trovato.
A favor do artigo, valeria lembrar que já há mais de 45 militares instalados no primeiro e segundo escalão do governo Bolsonaro, e confortavelmente ao abrigo de qualquer reforma da Previdência. Os militares estão em cargos de chefias de sete ministérios, em cargos-chave na Secretaria-Geral da Presidência e em órgãos estratégicos para o país como a Petrobras, a Caixa Econômica Federal e em Itaipu, sendo que o Exército tem a maioria dos membros militares do governo: até anteontem eram 18 generais e 11 coronéis da reserva em diversas áreas. Segundo a FSP, “Militares já se espalham por 21 áreas do governo federal”.
Isso é só o começo...
Abraços,
Luiz.
JORNALGGN.COM.BR
“A verdade iniciou sua marcha, e nada poderá detê-la”. Emile Zola, analisando os movimentos da opinião pública no caso Dreyffus. Há uma certeza e uma incógnita no quadro político atual. A certeza, é

domingo, 20 de janeiro de 2019

OS EX- ALUNOS FALAM: ESCOLA HERMILO BORBA FILHO -RECIFE-PE -

ARQUIBO  CEHBH

ARQUIBO  CEHBH

A Comunidade Escola Hermilo Borba Filho estaria completando 38 anos de sua fundação este ano. Foi uma escola Viva, renovou os ânimos de alunos, pais e de uma comunidade. Na época as inovações eram:  desde suas instalações à metodologia, conteúdos ali desenvolvidos, durou pouco 1981-1987.Mas deixou sementes que vingaram e vingarão mais.

A Escola deixou rastros via seus alunos e muitos professores que seguiram a metodologia ali desenvolvida e aprimorada. O Pensamento Crítico, a participação do sujeito – aluno e família ocorreram bem, com os normais contratempos. 

Enfrentamos a ditadura, no seu final, e propusemos  nossas metas e procedimentos metodológicos conteudísticos, não acatamos a doutrinação da direita, da ditadura- explicamos a História-escondida-e, mesmo com pouco tempo de vida deixamos marcas vejam:


Com muita alegria, após publicação do texto aqui já postado- sobre: A Comunidade Escola Hermilo Borba Filho,
( https://bit.ly/2sc7tAD) recebi três e-mails que disponibilizo após contato; eles-  ex-alunos, me acompanhavam pelo Face e no Blog Palavras dos Brasileiros, sem eu ter a devida identificação como seguidores.

Os e-mails comprovam nossa atuação, nos erros e acertos, mas sobretudo, nos dá um retorno de compreensão e resultado do nosso trabalho.

Os mesmos pediram para não serem identificados face a atual situação conturbada do país, ainda mais que dois fazem parte do governo federal -funcionários federais. Um é engenheiro, um geólogo, a outra, professora.

Reproduzo abaixo os e-mails com apenas as iniciais dos alunos:


Prof. Paulo
1-Foi com espanto e alegria rememorar nosso tempo na Escola. Você especialmente me ensinou muito a duvidar dos fatos e buscar variadas fontes dos acontecimentos. Não fui um excelente aluno, mas fisguei o que foi possível. Tornei-me incômodo na minha família, rsss, por duvidar dos fatos e querer explicações mais adequadas quando me apontavam caminhos únicos. Bom, meu pai era milico daqueles bravos, minha mãe foi quem escolheu a escola, morávamos na Encruzilhada. Ela era professora, sabe com é né, teve faro. Chegaram até a me ameaçar em retirar da escola. Jamais esquecerei de você e sua poesia, declamada para nós falando do homem. Lembro-me bem de Drummond que sempre era recitado. Foi um tempo mágico e engrandecedor, pena que a escola fechou, mas nos estamos aqui, hoje sou engenheiro e trabalho numa empresa estatal Lembro-me de Ana, Sueli, Vera e Gardel, meu abraço RST


2-Prof. Paulo

Sensacional, mais quero, mas, mais para mostrar aos meus filhos. Caso queira tenho fotos, preciso só encontrar, avise-me do lançamento. Hoje trabalho no interior de Pernambuco como geólogo. Foi demais a zorra da escola, pois nos sentimos verdadeiros apesar das criticas que recebíamos de sermos de uma escola Comunista...kkkkkkkk, nem sabem o que é comunismo. Sinto não termos tido um ensino mais intenso da matemática e de língua Portuguesa como os manuais e a escola tradicional pede, mas acontece. Abrace a todos, Sergio – o maluco, a Aninha que sempre foi bacana e atenciosa comigo. Indo a sampa quero vê-lo.
A.S.M

3-Paulo,
Agora chamo assim, aliás sempre chamávamos por seu nome, você até preferia, que bacana ver a matéria no seu blog, deixou-me com lagrimas de recordação. Jamais esquecerei a Hermilo, foi um marco em minha vida. Estudei com bolsa. As oficinas de brinquedos me ensinaram muito e repasso hoje em minha tarefa docente. Fui aluna ainda na Conde da Boa Vista depois passei para o Espinheiro. A metodologia em Ciências Sociais foi sensacional tornamo-nos seres críticos especialmente na atualidade que tanto nos massacra. Fico feliz de seu projeto de escrever sobre a escola. O pé e jambo será inesquecível. Abrace a Nanci, a Gardel, caso os vejam, ah! e Aninha ,Sueli. Meu abraço enorme.
A.N S

ARQUIBO  CEHBH



Em tempos tão difíceis, como os de agora, relembrar a Escola, sua história, seus passos é ver luz nos túneis da vida, é transformar jambo vermelho –fruta boa, gorda para a cabeça dos sujeito/alunos, é fazer política, como toda educação o faz, é fazermos, como assim fizemos, o poema da educação, dizer em coletivo partilhar lutar, buscar a verdade.!!!
Breve estaremos lançando uma pequena obra com sua história seus antecedentes e depoimentos.

Precisamos de mais escolas como estas ou acima dela, pois estamos em outro tempo, e para não regredirmos e cantarmos juntos a redenção dos povos de mãos dadas pelo saber, busca da verdade e da emancipação do homem como o melhor canto que poderemos ter – o homem e sua verdade o homem e sua emancipação e não o homem oprimido subserviente ao capital que destrói a poesia de ser.


--> Se nos proíbem, vamos às praças, ruas, estradas, mas cantaremos a verdade e o saber que nos faz libertos da opressão e nossos músculos serão ágeis e fortes para embates se assim for preciso!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A Arma de Elton L. L.de Souza-Pensar e metaforizar

ELTON L.L DE SOUZA
"(...) antes de aprender a escrever , há que aprender a ler.A escrita não é  senão a objetivação do texto ja presente  e múltipla  que cada um leva no espirito. Augusto Roa Bastos 


Elton como sempre nos concede algumas reflexões-via Facebook, que mesmo breve, nos indica um caminho ou caminhos a pensar. A violência  nos dias atuais tornou-se banal, enquanto a leitura ,o pensar mais fundo ainda estão longe de nossa rotina cotidiana.Comer a palavra, digeri-la, é criar memória e ação.Parodiando Roa bastos, a memória é o estômago da alma, aliás uma outra forma que Santo Agostinho falou.O livro em si é um  objeto como outro qualquer, mas sua leitura, releitura ( de bons autores que nos  ajude a pensar  - homem e  vida ) é crucial para  viver  e agir  e nos entendermos. O livro-lido, é  uma faca que pode cortar a ignorância  e avantajar as pupilas - os alvos.O livro e seu sumo são como bolsas que nos mantém em estado de sentido e questionamento. Vamos a  sua alegoria interessante. Paulo Vasconcelos



Tempos atrás um amigo muito próximo me procurou reservadamente e me disse: “Amigo, queria que você guardasse uma coisa para mim. Ando tão indignado com as injustiças e vilezas que acontecem ao meu lado, e também muito deprimido pelo efeito dessas coisas dentro de mim , que tenho medo de usar isso contra alguém ou contra mim mesmo ”. Ele enfiou a mão na pasta que carregava e tirou de lá uma arma, um 38. Por amizade pessoal a ele e “amizade política aos outros” ( chamada por Espinosa de “virtude da sociabilidade”, base da democracia), resolvi atender ao pedido do angustiado amigo e guardei a arma em minha casa. 
Apesar de a ter guardado em um lugar bem escondido, era estranho para mim ter aquilo em casa. O direito à propriedade deixa de ser um direito quando aquilo que se tem põe em risco a vida dos outros ou a vida própria ( quando o proprietário de tal coisa perde a capacidade de ser dono de si mesmo). Movido por essa ideia, passei a considerar que aquela arma não era mais propriedade privada do meu amigo e resolvi levá-la à delegacia para entregá-la ( àquela época havia um programa nacional de desarmamento) .
 Após receber e destruir a arma, o policial me informou que eu teria direito a receber 100 reais , pois o governo pagava pela devolução. Recusei o pagamento por tal ato, o policial me olhou sem entender. Desconfiado, e vendo que minha mochila ainda estava volumosa, ele perguntou se eu possuía ainda mais alguma arma. “Sim”, respondi. Enfiei a mão dentro da mochila e retirei dela vários livros: “Esta é a única arma em que acredito: a educação”.
“Quando queremos lutar contra as monstruosidades que existem no mundo, devemos tomar o máximo cuidado para que nós mesmos não nos tornemos monstros.” (Nietzsche)

sábado, 12 de janeiro de 2019

Carta aberta ao nosso novo chanceler, Ernesto Araújo -Capturas do Face



Profa.Dra.Mara Telles -UFMG, como sempre nos adianta coisas, fatos textos interessantes.Por vezes brinca, ironiza, mas desta vez ela apenas entregou texto, leiam .Paulo Vasconcelos

















Benjamin Moser é um escritor norte-americano que fez as biografias de Susan Sontag e da nossa Clarice Lispector. Ele escreveu uma carta aberta ao nosso novo chanceler, Ernesto Araújo. Tenho muitas palavras para definir os significados dessa carta, mas não vou usá-las. É melhor que cada qual leia e tire sua conlusão.





"Prezado ministro,
Há pouco mais de dois anos, o ministério que o senhor hoje encabeça me outorgou o Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural. Foi um reconhecimento do meu trabalho e trouxe consigo uma obrigação de continuar trabalhando em prol do Brasil —de ser algo como um amigo oficial do Brasil. E é nesta capacidade que lhe escrevo.
Recentemente, o senhor publicou uma matéria no meu idioma, o inglês, e no meu país, os Estados Unidos (“Bolsonaro was not elected to take Brazil as he found it”, ou “Bolsonaro não foi eleito para deixar o Brasil como o encontrou”, na Bloomberg, em 7/1). Se respondo em português, é por dois motivos.
Primeiro, porque sua matéria ilustra muito bem que saber a gramática ou o vocabulário de outra língua não implica compreender suas sutilezas: como soa. Se tivesse maior noção do meu idioma, seria de esperar que não houvesse publicado uma coisa que —digo francamente— expõe o Brasil ao ridículo.
E essa é a segunda razão pela qual lhe respondo em português. Apesar de não ser de nacionalidade brasileira, o Brasil não me é de maneira nenhuma alheio. Desagrada-me profundamente vê-lo alvo de risadas internacionais. Gostaria, pois, que esta conversa ficasse entre nós —em português.
Em inglês, a sua vinculação da política externa com Ludwig Wittgenstein soa bizarra. Suspeito que não seja sua intenção —que é, se estou lendo bem, de deslumbrar o leitor com frases como “desconstrução pós-moderna avant la lettre do sujeito humano e negação da realidade do pensamento”.
Sabe aquele estudante de pós-graduação que encurrala a menina na festa falando de Derrida ou Baudrillard?
Pois é.
Aliás, em inglês, proclamar “não gosto de Wittgenstein” soa pretensioso, arrogante. Sabe aquele homem que, diante de um Picasso, diz que sua filha de quatro anos poderia ter feito melhor?
Pois é.
Mas, além do tom, qual é mesmo seu problema com Wittgenstein? Vejo que não é sequer uma frase inteira, mas uma parte de uma frase: “O mundo tal como o encontramos.”
O senhor lê isso como um pedido —uma ordem, até— de aceitar tudo no mundo tal como é, de não tentar mudar nada, de se comportar como se não tivesse vontade própria. Se acompanho a sua lógica, é assim que o Brasil tem se comportado durante todos os governos, de esquerda como de direita, que precederam o atual.
Para quem conhece a obra de Wittgenstein —assim como para quem tem noções da história diplomática brasileira—, isso pode soar inexato. Mas o senhor pretende romper um padrão que tem impedido o surgimento da verdadeira grandeza do Brasil. O país, segundo o senhor, antes disse: “Eu não acho nada. Eu não tenho ideias. Assim como o sujeito desconstruído de Wittgenstein, eu não tenho um ‘eu’.”
Eu não caracterizaria o trabalho de gerações de diplomatas brasileiros assim. Imagino que, em português, possa soar desdenhoso. Mas estamos falando de como soa em inglês, e, se muito ficou incerto na sua matéria, uma coisa ficou clara: sua vontade de mudar a imagem do Brasil no mundo.
De fato, em poucos meses, essa imagem já mudou bastante. Temo que não seja na direção que o senhor pretende. Pois, em todos os meus anos de brasiliófilo, nunca vi tantas matérias ruins sobre o Brasil surgirem na imprensa europeia e americana. Isso deve ser motivo de preocupação para um chanceler. Porque o Brasil, apesar de seus problemas, sempre desfrutou de um nome positivo no mundo.
O racismo, a homofobia e a saudade da ditadura da nova administração têm sido fartamente comentados na imprensa mundial. Em inglês, o tom dessa cobertura tem sido extremamente negativo. Um chanceler deve poder responder num inglês sereno e compreensível e explicar as razões que levam o novo governo a adotar tal e tal medida.
Quando se dirige a um público internacional, uma coisa a evitar a todo preço é o emprego de termos —“globalistas,” “marxistas,” “anticosmopolitas,” “valores cristãos”— que, em inglês, têm fortes conotações antissemitas.
São extraídos do léxico de conspiração global judaica, e, dada a história deste léxico, pessoas civilizadas, tanto de direita como de esquerda, aprenderam a evitá-lo.
Quando se fala inglês, é preferível, em geral, evitar falar de conspirações. Dá a impressão de ter passado a noite em claro na internet decifrando os segredos das pirâmides. Talvez seja por isso que suas descrições sobre o aquecimento global como trama marxista tenham sido tão amplamente ridicularizadas na imprensa mundial.
Quem, em língua inglesa, quer ser levado a sério evita tais caracterizações. E não é mesmo este o maior desejo do senhor, o de ser levado a sério? É a única coisa que fica clara debaixo da linguagem um tanto acalorada.
A novidade que o senhor anuncia não é outra coisa senão a mais antiga emoção do conservador brasileiro: o ufanismo magoado.
Este é o sentimento de quem quer uma nação que esteja à altura da imagem —muitas vezes exagerada— que tem de si próprio.
Se o senhor imagina que o Brasil não é suficientemente respeitado, seria bom nos brindar com pelo menos um exemplo; na minha experiência, vasta, do Brasil no âmbito internacional, confesso que nunca percebi a falta de respeito.
Mas, mesmo que ela existisse, seria bom lembrar que, em qualquer país, o respeito não se exige. Com paciência e trabalho, se ganha.
Ninguém sabe melhor do que eu os lados positivos que tem o Brasil. Mas, sabemos, brasileiros e estrangeiros, que o Brasil também tem uma cara feia. E é essa cara que seu tom me traz à mente. É o tom daquele patrão que grita “faça que tô mandando!” para a empregada. Asseguro-lhe que não fica mais elegante em tradução inglesa.
Infelizmente, não é apenas uma questão de tom. Desde o primeiro dia, este governo deu a impressão de querer abusar das pessoas mais vulneráveis da sociedade. Todos os jornais do mundo têm noticiado os ataques aos índios e à população LGBT, além da redução do salário mínimo para os trabalhadores mais pobres.
É possível que haja explicações razoáveis para tais medidas, mas confesso que até agora não as vi. De novo, seria mais eficaz explicá-las com calma do que andar pelo mundo proclamando que os brasileiros não são mais “robôs pós-modernos” e que não suportarão mais “a opressão wittgensteiniana da morte-do-sujeito.”
Porque, ironicamente, é seu medo de ver as pessoas zombarem do Brasil que fará… as pessoas zombarem do Brasil. Deve ter visto a ministra Damares gritando que “menino veste azul e menina veste rosa!” e notado como isso repercutiu pelo mundo. As suas declarações também não ajudam a que as pessoas levem o Brasil a sério.
Se há um ponto em que estamos em total acordo é que também não gosto de ver o Brasil ridicularizado. Por isso, lhe encorajo a lembrar em nome de quem está falando. E de escolher com mais tato, em português como em inglês, as suas palavras.
O senhor se descreve, no seu Instagram, como “ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro”. Não é.
É ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Seria bom que se comportasse com a dignidade que tal posição exige.
E se, no futuro, tiver uma dúvida de inglês, pode sempre entrar em contato comigo.
Cordialmente,
Benjamin Moser

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Graciliano Ramos e o Brasil de hoje: Memórias do Cárcere por 247


"Se o capitalista fosse um bruto, eu o toleraria. Aflige-me é perceber nele uma inteligência, uma inteligência safada que aluga outras inteligências canalhas."


Em tempos de horror - de uma ditadura disfarçada entre golpes,eleições sob suspeitas de fraudes, militarismo ativo - no comando nas coxias ou vociferando claro e límpido, une-se ou submete-se um judiciário capengando ao lado dos falsos líderes,Franklin Frederick, escritor ambientalista,  nos relembra as faces de outro tempo que recobrem hoje  nosso país tomando a fala de Graciliano Ramos- via 247 -https://bit.ly/2LZjH8V - Paulo Vasconcelos



GRACILIANO RAMOS POR 247



"Mas não vivemos em tempo ordinário (...). Cada indivíduo se julga com o direito de ensinar qualquer coisa, surgem apóstolos de todos os feitios, sumiu-se o ridículo e o mundo se vai tornando inabitável".
Graciliano Ramos, Linhas Tortas
Graciliano Ramos foi a vítima mais célebre da repressão do Governo Vargas. Foi preso em Maceió no dia 3 de março de 1936, permanecendo detido sem acusação formal até o dia 13 de janeiro de 1937. Sobre este período escreveu «Memórias do Cárcere», publicado pouco depois de sua morte, faltando um capítulo que ele não teve tempo de terminar. Relendo-o hoje, percebo que mais do que uma grande obra literária e um documento fundamental sobre aquela época, «Memórias do Cárcere» é uma obra profética: fala do Brasil de hoje e do que ainda está por vir. Isto porque nesta obra Gracialiano Ramos analisou e descreveu com clareza e profundidade um conjunto de mecanismos, comportamentos e atitudes que dominaram grande parte da sociedade e das instituições do Brasil naquele período. Passada a repressão, porém, este conjunto não desapareceu, apenas submergiu. E no Brasil de hoje volta à superfície muito do que Graciliano Ramos já havia visto e denunciado, fazendo de «Memórias do Cárcere» um guia indispensável para compreender nosso próprio tempo. Separei algumas frases, poucas, de «Memórias do Cárcere», que descrevem com precisão o Brasil de hoje. Espero com isso despertar o interesse pela releitura desta obra e resgatar sua importância na luta pela democracia no Brasil.
Sobre a necessidade do capitalismo de construir uma ideologia que disfarce sua atuação e seus verdadeiros propósitos, por exemplo, Graciliano Ramos escreveu:
"Se o capitalista fosse um bruto, eu o toleraria. Aflige-me é perceber nele uma inteligência, uma inteligência safada que aluga outras inteligências canalhas."
Como não ver no Brasil de hoje a atuação desta «inteligência safada» alugando outras «inteligências canalhas» no processo que levou ao golpe que derrubou a presidente eleita Dilma Rousseff, à prisão do ex-presidente Lula e, por fim, à eleição de Jair Bolsonaro? Que esta «inteligência safada» do capitalismo seja inimiga profunda da cultura e de todo o pensamento crítico é um outro fato observado por Graciliano Ramos e muito obviamente presente no Brasil da era Bolsonaro, onde abundam «inteligências canalhas» de aluguel dispostas a defender propostas como as escolas sem partido, ou a homofobia, a tortura, as ditaduras e a exterminação dos povos indígenas. Isso sem mencionar a entrega das riquezas públicas brasileiras para o capital financeiro através das privatizações. Já desde algum tempo no Brasil procura-se encarcerar o pensamento e o espírito. Sobre tudo isso Graciliano foi - e é - contundente:
"O emburramento era necessário. Sem ele, como se poderiam aguentar políticos safados e generais analfabetos?"
Nada mais atual. O obscurantismo pregado por certas igrejas evangélicas ligadas ao novo Presidente, a escolha de Ricardo Velez Rodriguez para o Ministério da Educação, de Damares Alves para Ministra dos Direitos Humanos e de Ernesto Araújo para as Relações Exteriores são sinais claros de que o Governo Bolsonaro está em guerra contra o pensamento e a cultura. Guerra inevitável, como bem viu Graciliano Ramos, para se levar adiante um projeto econômico profundamente elitista, anti-popular e anti-nacional.
Graciliano Ramos estava bem consciente também da extensão da opressão necessária para manter um tal regime:
"É o que me atormentava. Não é o fato de ser oprimido: é saber que a opressão se erigiu em sistema."
E ele sabia que não precisaria muito para ser enquadrado como «inimigo» pelo regime – de então e de agora - e nos avisou:
"Tínha-me alargado em conversas no café, dissera cobras e lagartos do fascismo, escrevera algumas histórias. Apenas. Conservara-me na superfície, nunca fizera à ordem ataque sério, realmente era um diletante."
Diante da combinação de brutalidade e ignorância da repressão do governo Vargas, Graciliano chegou a pensar na possibilidade do exílio:
"Imaginei-me em país distante, falando língua exótica, ocupando-me de coisas úteis, terra onde não só os patifes mandassem."
Graciliano Ramos também denunciou a abjeta subserviência do Brasil da época a um outro país, a Alemanha nazista. Mas suas palavras também descrevem com clareza a subserviência, alardeada com orgulho pelo Ministro Araújo, do Brasil de hoje aos EUA, basta substituir, na frase abaixo, "ditadura ignóbil" por "Donald Trump" (ou talvez, apenas acrescentar "de Trump" depois de "ignóbil", também funciona):
"A subserviência das autoridades reles a um despotismo longínquo enchia-me de tristeza e vergonha. Almas de escravos, infames; adulação torpe à ditadura ignóbil."
Graciliano também observou e denunciou a deterioração do sistema legal, procedimento fundamental para o estabelecimento de um estado de repressão:
"A lei fora transgredida, a lei velha e sonolenta, imóvel carrancismo exposto em duros volumes redigidos em língua morta. Em substituição a isso, impunha-se uma lei verbal e móvel, indiferente aos textos, caprichosa, sujeita a erros, interesses e paixões. E depois? Que viria depois? O caos, provavelmente."
E Graciliano prossegue, escrevendo o que parece ser um comentário à atuação do Poder Judiciário de hoje:
"Se os defensores da ordem a violavam, que deveríamos esperar? Confusão e ruína."
Mas o pior ainda pode estar por vir. «Memórias do Cárcere» contém uma sombria profecia sobre um possível futuro deste governo:
"O governo se corrompera em demasia: para aguentar-se precisava simular conjuras, grandes perigos, salvar o país enchendo as cadeias."
Desde o governo golpista de Temer já se tenta "simular conjuras, grandes perigos", inventou-se ameaças terroristas porque nada melhor que um inimigo interno para disfarçar fracassos econòmicos e justificar a repressão. Este processo continua, sobretudo através da criminalização de movimentos sociais como o MST. A política econômica proposta pelo Ministro Paulo Guedes beneficia principalmente o setor financeiro e fatalmente vai aumentar os niveis de desigualdade e de pobeza. E as privatizações apenas vão entregar ao capital internacional as riquezas públicas do país, diminuindo ainda mais a possibilidade de recuperação econômica real. As forças que estão por trás da eleição deste governo não tem a menor preocupação e nem o menor compromisso com o Brasil e com o seu povo, apenas com o mercado. A combinação de despreparo, rapina, mediocridade e submissão aos interesses dos EUA, características do Governo Bolsonaro, inevitavelmente levarão ao desastre econômico e social, gerando cada vez mais resistência popular. Para o Governo, que conta com uma enorme participação de militares, só restará aumentar a repressão – sob qualquer pretexto – para manter-se no poder: "salvar o país enchendo as cadeias".