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terça-feira, 7 de março de 2017

Carnaval: Papangus ausente? E os Apangus Paulistanos?

FOTO .D PE.

Papangu denominação dada a foliões que se vestem colorido, fantasiados, nas manifestações carnavalescas do Nordeste, , nas regiões de Alagoas, Paraíba, sobretudo em Pernambuco (a cidade de Bezerros, com seu carnaval nesta temática). Diz-se que sua origem está em grupos e pessoas que se vestiam com máscaras de panos simples improvisadas e saiam de casa em casa, comendo e bebendo durante o carnaval; há um outra manifestação que se aproxima, destacadamente na Paraíba, que  é a Lauça, uma ressignificação de se vestir ”a la um urso” .

Mas o papangu, pernambucano, se alterou: de máscaras simples para industrializadas ou ainda artesanalmente, mas de modo rebuscado, à moda Italiana, veneziana. Já  a  Lauça não, permanece no improviso. Entretanto, já há muito tempo, no dia a dia, a palavra ganha outro significado no sentido de ser um sujeito tolo, apalermado, bobo, moleirão.

São Paulo foi uma cidade que teve tradição de carnaval de rua entre o século XIX e começo do século XX. Era um carnaval veneziano, de máscaras, os Clóvis (mascarados solitários) e corsos, da burguesia na Av. Paulista, ainda sem este nome. Depois a Vila Esperança, com seus bonecos enormes como os de Olinda, e o Bexiga e Barra Funda. Foram famosos diversos cordões carnavalescos, uma espécie de procissão, em fila de corda pelas ruas.

O carnaval de avenida – escolas de samba – foi inspirado por estes cordões. Copiaram os modelos cariocas, incentivados por um corporativismo das escolas, investimentos da mídia, e empresas, de bebidas alcoólicas, cervejas... Daí o Sambódromo paulista, construído com apoio de rede de televisão, instigado e pago por tal rede, teve seu calendário alterado, para não bater com os desfiles do Rio de janeiro, do primeiro grupo de lá.
Enfim, o carnaval da capital não tem originalidade, coisa que cordões tiveram. Hoje são reféns do capital. Decaiu o samba, o desfile, como afirmou Beth Carvalho, recentemente.

Nas periferias o carnaval existe disperso, resistiu às tradições, até dos maracatus, índios e afoxés, isto como resistência dos negros e nordestinos. Entretanto, não ganha expressividade midiática.

Voltemos ao Papangu. Ele não existe de modo nordestino. Salvo nas periferias, o Papangu Paulista são grupos soltos ou redutos de blocos nascidos aos poucos, desde o século passado. Em 2012,  ganharam intensidade, no governo do PT, que incentivou este carnaval de rua. 

A concentração se dá, sobretudo, na semana pré-carnavalesca; na Zona Oeste, Centro, Av. Paulista, Consolação, Anhangabaú, Bexiga, Vila Madalena, sendo que, neste último, resultado da classe média, burguesa, que recriou um carnaval apapanguzado. São sujeitos sós ou em blocos, pequenos e grandes, e que vem copiando a modalidade do nordeste e alguns do Rio de janeiro, mas sem expressividade estética maior e se vestem com máscaras, ornamentos outros. Grande parte das vezes o álcool os fantasia nos seus gestos, e solta o bicho de dentro de si  num entortar das roupas que o fazem uns papangus anômalos Ornam-se, como falam eles.

Eles então ganham o segundo sentido, que mencionei no início, são manifestações tolas, abobalhadas que não sabem nem porque estão nas ruas e ficam uns-vão-com-outros.

Alguns blocos vem se afastando deste apapanguzamento e estendem-se pelo período momesco, tomam motes políticos, dentro da crise no pais.

Mas não só de desajeitados vem à tona o carnaval paulistano:  Gretchen, DJs e o povo que o digam; pelas ruas do centro, e mais Vila Mariana, Santo Amaro, Bexiga, Faria Lima, Vila Maria, Pinheiros, Lapa, Pompéia, Consolação, praça Roosevelt, Av. Paulista, fora o off Broadway do sambódromo .

Os nomes  lembram o espontâneo e popular como: Bloco Vem Ku Nóis Ó, Bloco de Concreto, Bloco do Desmanche, Banda Carnavalesca Macaco Cansado, Bloco Bastardo, Esfarrapados (famoso e antigo), Bloco Ma-Que-Bloco, para falar apenas de alguns, pois são mais de 500.

Conheci um Europeu, que estuda assistematicamente o país, e gosta da nossa cultura. Fala bem o português. Veio a São Paulo, andou pelas ruas do centro e Avenida Paulista e disse-me: “Que TV é essa? 24 horas de Carnaval?  Que é isso?”, e mais, “que carnaval é este, daqui de São Paulo?, não  entendi, encontrei mais bêbados enturmados e solitários”. Retruquei, falando de nossos carnavais e, ao fazê-lo, apontei vários carnavais do brasil passando pelos papangus – falei dos dois sentidos, o que ele revidou dizendo “então aqui é o carnaval do Apangu!”. Ri e vi que sim. Ele disse: então é o Trema  !
O fato é temos circo, carnaval e gritos de “Fora Temer”...
Este foi o maior papangu...!



quarta-feira, 1 de março de 2017

BOCAS APALAVRADAS - uma melancia aberta e um poste entortado

Paulo Vasconcelos ...por R .Brasileiros



As ruas do país, capitais ou não, vêm sendo frequentadas, em grupos pequenos, grandes ou imensos, para dizer algo sobre o atual contexto político. E se fala sempre em mil e milhões com as palavras nas bocas, com álcool para melhor soltar o verbo arretado. E haja língua, gestos, gritos cartazes, bordões. Nestes ajuntamentos, aparecem as palavras orais e escritas como poesia raivosa ou não, sobre o poder. A mídia especialmente: a TV aberta, ou que aborta os fatos, e a cabo, rádios (AM e FM), os jornais, as revistas semanais etc. dizem o que ideologicamente creem, além das redes sociais.

Mas, como disse a moça na porta da lotérica, na praça da Sé: “Tem malandro, tem otário, tem meuzovo e tem as paneleiras da crasse arta, mas tem as empregadas farsas que dá panela à patroa e depois elas reclamam que elas machucaram a panela no fogão”.

Já em outra manifestação, Dona Delzimar, de Pananabiacaba, que veio apoiar Dilma e Lula, pois sonhou com uma melancia aberta e um poste entortado. Isto lhe deu medo e disse: “Vim para gritar minhas palavras de apoio a Democracia. Dilma! Ela fica!”

Do outro lado nas redes sociais, a Cientista Política da UFMG, Drª Mara Telles, diz no seu Face, com seu humor imenso e crítica:

“Passei por aqui só para deixar um Rivotril e uma vassoura para dar voadora naquela turminha que vai dar presente de Páscoa para a titia e, acabado o almoço de domingo, oferece como sobremesa odinhos, ataques e xingueiras nas redes sociais. A Páscoa nasceu para todos, mas o coelhinho só trás ovinhos para quem se comportou direitinho, viu? Antes de rezar no almoço de família, não toque terror nas redes: é feio. Jesus perdoa até ladrão, ele vai perdoar você também, porque ele ama a todos os infelizes. Mas, calúnias e danos morais, a Justiça não perdoa não, viu? Feliz Páscoa e aos Bolsonarinhos que foram bem mauzinhos desejo que Moro não lhes traga seus ovinhos...” (http://bit.ly/1PtWCU5 em 23.03.16, as 13.30)

“Hoje eu tô poética depois de minha visita ontem à Fiesp. Tô fazendo até versinho: ‘Patinho, Patinho, quem é o seu Painho que chocou o seu ovinho, quem é o seu Padrinho? Patinho, Patinho, vem prá rua fazer quaquá, aproveita a manifestação e me diga de qual sonegação veio tanta movimentação?’ Poemas lúdicos para iluminar nossa quarta-feira líquida. E, vocês ingratos, ficam aí detonando Maria Padilha, a Pomba-Gira, mas não sabem que quarta-feira é dia dedicado à nossa Iansã, que Iansã gosta de vermelho e que Lacerda treme no túmulo toda vez que vocês o confundem com Cunha? Bom Dia, Anarquia! Quem não tem cão, caça com Gato, quem não gosta de Democracia, elege um Pato!”

Mas será que Mara viu? Uma cadeirante, filha de militar com aposentadoria do pai, que veio com a neta pintada de amarelo e verde e defende o Bolsonaro, e os militares e a neta de cara roxa não sabe de nada nem empurrar a cadeira, mas grita: “Meu avô, minha vó e viva os milico”.

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

DISCURSO DO ESCRITOR RADUAN NASSAR -NA ÍNTEGRA-Prêmio Camões


"Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua.
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
O golpe estava consumado!
Não há como ficar calado.
Obrigado"

Raduan Nassar afronta Roberto Freire e esculhamba governo ao receber o prêmio Camões

por  FORUM com Informações de Camila Moraes do El País

http://www.revistaforum.com.br/2017/02/17/raduan-nassar-afronta-roberto-freire-e-esculhamba-governo-ao-receber-o-premio-camoes/

Raduan foi convocado na manhã desta terça-feira ao Museu Lasar Segall, em São Paulo, para receber o Prêmio Camões de 2016 – entregue a cada ano pelos governos de Brasil e de Portugal a escritores expressivos da língua portuguesa. Aproveitou a oportunidade para esculhambar o governo Temer. Ministro da Cultura, Roberto Freire, tentou responder, mas foi vaiado pelo público.

Um dos maiores escritores brasileiros, o paulista Raduan Nassar, professa que aposentou a caneta há mais de 30 anos, mas demonstra que não a força de sua voz. Autor de romances seminais da literatura brasileira, Lavoura Arcaica e Um copo de cólera, Raduan foi convocado na manhã desta terça-feira ao Museu Lasar Segall, em São Paulo, para receber o Prêmio Camões de 2016 – entregue a cada ano pelos governos de Brasil e de Portugal a escritores expressivos da língua portuguesa. Direto, ainda que polido, ele aproveitou a oportunidade para se manifestar contra o Governo de Michel Temer, referindo-se a ele como “repressor”.
O que era para ser uma homenagem à sua obra foi transformado pelo próprio escritor em um pequeno e contundente ato de protesto. Com isso, despertou reações acaloradas não só do público presente, mas sobretudo do ministro de Cultura Roberto Freire, presente no ato ao lado do embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, e de Helena Severo, presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
O discurso de Raduan foi forte, ainda que breve. Depois de confessar “dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri” e agradecer a Portugal, o escritor disse que “infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil” e que “vivemos tempos sombrios, muito sombrios”. Sua fala fez menção a episódios recentes da agitada vida política nacional, como a “invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo”, a “invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados” e a “violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua”. “Episódios perpetrados por Alexandre de Moraes”, a quem o escritor se referiu como “figura exótica indicada agora para o Supremo Tribunal Federal”. Ao STF, Raduan dirigiu duras críticas, questionando a nomeação do ministro Moreira Franco, citado na Operação Lava Jato, e recordando, por comparação, o imbróglio em torno da nomeação de Lula à Casa Civil em 2015.
As reações dos presentes foram imediatas e se acirraram quando, depois da fala de Jorge Cabral, o ministro Roberto Freire deixou de lado o discurso que trazia impresso para “lamentar”, como disse, o ocorrido. “O Brasil de hoje assiste perplexo a algumas pessoas da nossa geração, que têm o privilégio de dar exemplos e que viveram um efetivo golpe nos anos 60 do século passado, e que dão exatamente o inverso”, reagiu. Diante de gritos e vaias e da interrupção da sua intervenção algumas vezes por alguns dos presentes, o ministro reagiu dizendo que “é fácil fazer protesto em momentos de governo democrático como o atual” e que “quem dá prêmio a adversário político não é a ditadura!”.
Diante da declaração de Freire de que “é um adversário político do Governo recebendo um prêmio do Governo que ele considera ilegítimo”, escritores presentes no evento ressaltaram que o Prêmio Camões 2016 foi anunciado em maio de 2016, quando o impeachment ainda não havia sido concluído. “É preciso ressaltar que ele aceitou o prêmio em maio do ano passado, quando o Governo ainda era o de Dilma Rousseff”, destacou Milton Hatoum. Segundo o escritor amazonense, autor do premiado romance Dois irmãos, entre outros, o governo atual “adiou por muito tempo a entrega desse prêmio, justamente por medo dessa repercussão”. No meio, o discurso político de Nassar – que se manifestou contra o impeachment anteriormente – já era esperado por todos.
Ao final da premiação, muitas pessoas procuraram Raduan Nassar para parabenizá-lo pela honraria e também por suas palavras. Houve também quem se dirigisse “envergonhado” à equipe do ministro, que deixou o museu poucos minutos depois de intervir, e também aos assessores do embaixador português com pedidos de “desculpas”. Discreto, Nassar, à sua vez, conclui que “não há como ficar calado”.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Um leitor da cidade


Amante da Biblioteca Mário de Andrade, o sr. Apolônio, personagem veterano de São Paulo, acredita no ditado: só é paulistano quem sobe a Consolação chorando

Foto: Maurício Pisani

Invento passeios, mas sempre vou pelo centro de São Paulo, catando prosas novas e antigas, ruas em que andei, vivi, trabalhei. Olhos as roupas dos passantes, vejo a cor do dia e das lojas. Tomo o metrô e desço na estação República, de onde logo me deparo com a Av. São Luís e meus olhos “se abuticam” com a Biblioteca Mário de Andrade. Entro vejo, consulto, falo com os funcionários, cumprimento as mesas, as esculturas, leio um pouco, e resolvo tomar algo, na praça ao lado, D. José Gaspar. Cumprimento os engraxates, já rareando na cidade.
Havia um que era compositor – Antonio Silva. Morreu, segundo soube. Ele era demais; entre um cliente e outro fazia crochê, mesmo com os senões dos amigos. Saudade, boa prosa ele tinha. Sento-me no bar onde imagino ter vinho e tem uma vista verde. Ao sentar, devo ter pensado alto: será que aqui tem vinho? Logo respondem: – Tem sim, estou tomando, vale a pena. Chamo o garçom, um boliviano, com português correto, gentil, peço uma taça e a tomo com o novo amigo.
Seu nome: Sr. Apolônio. Deve ter uns 75 anos, vestido a rigor, terno e gravata borboleta. Diz que costuma vir pouco em São Paulo, pois vive em Araraquara, onde os pais moraram. Aqui na Mooca ele nasceu e viveu um tempo. Filho de uma cearense e um argentino, neto de paraguaios, foi cerzidor, alfaiate de escritores. O varejo era cerzir, sobretudo nos invernos, velhos cachecóis, e pulôveres. Não se comprava à toa como hoje. Daí voltou para o interior. Agora vem para ver a filha, que mora na Av. São Luís, casada com um inglês.
- Gosto daqui, diz ele. Revejo a cidade e amigos vivos. Hoje querem que se leia mais e não se fala em bibliotecas; pergunte se sabem quem foi D. José Gaspar? Duvido que saibam… um arcebispo da cidade… Será que veem as esculturas de Camões, Dante, Goethe? A biblioteca Mário de Andrade, segunda maior do país, onde tinha salas para estudar instrumentos musicais… Pois bem, nem entram nela. Ela está um colosso, ah! Ninguém sabe que ela fica na Rua da Consolação; aliás disseram, logo que vim morar aqui, que só se é paulistano se subir a Consolação chorando.
Pergunto o que tem lido, fala-me dos clássicos portugueses, alemães, italianos e destaca-me novos – que não conheço – mas diz:
- Ainda estou em Clarice, Aníbal Machado, Mário de Andrade e minha Orides Fontela, com quem proseei e foi injustiçada. Ah, sim, de Machado de Assis dei um tempo.
Perguntou-me o que eu fazia, disse-lhe que era professor universitário aposentado. Em resposta, falou-me que deu sorte em encontrar alguém para ouvir e ser ouvido. Recitou versos de Orides, “toda palavra é crueldade”, entremeou com os de Mário de Andrade, Cecília, Vinicius, Zé Régio e, por fim, despedimo-nos. Ele tirou do bolso uma bola de gude com seu nome gravado. Dei-lhe um cartão e resolvi subir a Consolação. E estava chorando…
Será que já sou paulistano ou toda palavra é mesmo crueldade?
Link curto: http://brasileiros.com.br/LjbTO