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sábado, 16 de janeiro de 2016

A mulher dos frutos na palavra


A prosa poética de Alexandra Barcelos no livro infantojuvenil Cadu e as Histórias de Bantu
Por Revista Brasileiros-SP
Paulo-Vasconcelos-header
Contar histórias, dizer o mundo aos jovens, tornou-se algo mais difícil, em tempos atuais.

O imaginário mudou: desde a oralidade na fase agrária, dos João e Maria, até as histórias das negras, dos empregados de casa, babás etc., passando para a fase urbana de Luluzinha, Bolinha, Gato Félix, etc. E entramos nas histórias espaciais ou marinhas, nos desenhos animados.
Hoje a literatura infantojuvenil vem a ocupar um lugar que tenta suprimir o contato verbal e luta com a imagem/movimento, tempo de enfrentamento das letras impressas, do livro, dos autores e seus temas.
Entre tantos autores e bons ilustradores, fez-se um álibi para concorrer com a mídia imagética; assim as editoras deram vazão à sua produção e consagraram o precursor Monteiro Lobato, passando por Ana Maria Machado, André Neves, Roger Mello, Marcelo Mansur, Lygia Bojunga, Leo Cunha, Ruth Rocha e tantos outros.
Em todos os quadrantes surgem novos autores, como é o caso de Alexandra Barcelos. Natural de Foz de Iguaçu, viveu uma intensa natureza, e lá começou sua inspiração, à qual aliou-se sua formação em Letras. Esteve na Itália e nos Estados Unidos, onde tomou bebida literária. Mas, no seu afã de ser uma andante pelo Brasil, o Nordeste marcou-a, no Rio Grande do Norte e na Bahia, onde se alimentou. Suas obras estão ligadas à ecologia, diz-nos, sempre escolhe um bioma para focar em seus livros,  já em número de seis.
Ela também é alimentada por seus alunos, do ensino fundamental II, em Curitiba, onde mora, e com seu gosto de frutas na palavra faz banquete literário com os alunos.
Agora surge Cadu e as Histórias de Bantu (Ed. Kazuá, 2015), narrativa de um menino que cresce num vilarejo do sul da Bahia. Sua família tem uma fábrica de berimbau: atividade passada há gerações de pais para filhos e que não só é um negócio, mas forma de manter as tradições. Cadu cresce nesse ambiente, e vive o seu vilarejo como se ele fosse um lugar mágico, entre rios, árvores, lugares secretos, até que grandes eventos começam a transformá-lo.
Foto: ingimage
Ilustraçao: ingimage
Há em Alexandra uma prosa poética, sutil, que acompanha sua textualidade, compondo um lirismo que refresca, como o vento na natureza, que ela sempre cita.
“Meu pai sempre dizia para eu não apressar o tempo, sinta o vento soprar me dizia ele.”
Alexandra tem uma maestria na condução do texto que cola o leitor às paginas, do adulto ao jovens e crianças – aliás, pais deviam ler mais o livro infantojuvenil.
E, na sua poética, ela ainda nos diz em Cadu:
“E, foi lá que descobri que as mangas gostam de ouvir histórias antes de amadurecer.”
Não à toa, Alexandra é uma poetisa, já com livro lançado: Velho Talismã (Inverso, 2014). E vem novo livro, em 2016. Tomemos um pré-gole:
“Vértebras deformadas aguardam na sala de espera
eu tento reanimá-las com palavras…”
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária em universidades privadas e consultor editorial da área de Literatura, além de contista e poeta com livros publicados (paulovasconcelos@brasileiros.com.br).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Carnamídia



O Carnaval que não fala do Brasil dos brasileiros: pular (SP), brincar (PB, PE, Al e CE), sair (RJ, SP e BA) o (ou no) Carnaval
Publicado pela Revista Brasileiros-SP
Vivi três tipos diferentes de Carnaval em Pernambuco, na Paraíba e em São Paulo. Um foi do estilo Entrudo e Zé Pereira, mais rural, La Ursa (“Olé, Olé, quem não dê dinheiro ao urso fica aleijado do pé”), do frevo de rua, do molha-molha, das máscaras de plástico ou de papel machê. Outro, do tipo mais urbano, dos clubes, com lança-perfume e roupas de marca. E o terceiro, de passarela – fui jurado dos desfiles das escolas de samba paulistas por três anos.
Todavia, no primeiro e segundo, cantava-se “Ô abre-alas que eu quero passar/Eu sou da lira, não posso negar” (Chiquinha Gonzaga) ou Mamãe eu Quero (Jararaca e Vicente Paiva).
O Carnaval veneziano, dos clubes, dos corsos, como o da Avenida Paulista (SP), misturou-se ao espanhol, dos bonecos grandes, da Vila Esperança (SP), de São Luiz do Paraitinga (SP), de Olinda (PE) e a toda uma tradição negra, como a dos maracatus, e até com ritos da cultura popular, como bumba meu boi e cavalo-marinho.
O Carnaval midiático tirou a poesia da boca do povo, foi formatado para a interface das TVs nacionais e estrangeiras e o “roliudianou”. O rádio também o alterou, brando, e o fez melhor articulado pelo meio fonográfico e pela cultura popular.
A imagem, pouco a pouco, tirou o som do gênero musical, dos sambas fora das escolas, das marchas, dos frevos de Capiba e Nelson Ferreira (PE). Emudeceram Ângela Maria, Isaurinha Garcia, Marlene, Emilinha Borba, Zé Kéti, Claudionor Germano, Cauby Peixoto, Germano Mathias, Geraldo Filme, Ataulfo Alves, Herivelto Martins, Dalva de Oliveira, a orquestra Tabajara, entre outros, do gosto popular.
O bloco do Eu Sozinho, do Rio de Janeiro, vem desaparecendo junto com o do Clovis, de Santos (SP), os mascarados em turmas. Restam troças, papangus (PE), afoxés, cambiadas (homens travestidos de mulher), enfim, a manifestação popular integrando público e plateia.
O Carnaval baiano da Praça Castro Alves, dos trios elétricos, antes Dodô e Osmar, espetacularizou-se, dizendo o reggae, o rock, o forró, etc., o que confirmou o antropólogo Antonio Risério.
Sumiram muitos blocos e cordões, como Mocidade e Sôdade do Cordão, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, havia os da Barra Funda, Bixiga, Lavapés e tantos outros.
Muitos afoxés, ranchos, cordões e troças, como Zé Pereira, bumba meu boi, Estrela Dalva e os maracatus, estes últimos sobrevivem distantes da mídia, distribuídos por todo o País como uma espécie de resistência da cultura negra, revivendo sua, aliás, nossa, realeza africana.
Acelera aê, de Gigi, Magno Santana, Fabio O’Brian, Dan Kambaiah (BA). Eu te Amo, Porra!, de Átila (BA). Como também “Ah! Essa lembrança que ficou, momentos que não esqueci, eu cheio de fantasias“, Roberto Carlos: a Simplicidade do Rei, samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis (RJ). Se esses foram os sucessos da Bahia e do Rio em 2011, na forma brodueidiana, o brasileiro vem retomando, nas últimas décadas, seu espaço no bem dizer Carnaval.
A palavra carnavalesca está com nova força nos grandes centros e capitais e em seus recônditos afora, assim como desforra, temos o Cordão do Bola Preta (RJ), o Galo da Madrugada (PE), o Elefante (PE), a Pitombeira (PE), o Homem da Meia-Noite (PE), Cala a Boca e Beija Logo (SC), entre tantos outros.

*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária na Anhembi-Morumbi, professor colaborador da ECA-USP, Fundação Escola de Sociologia e Política-FESP, além de contista e poeta com livros publicados (paulo@brasileiros.com.br).

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O Ano da literatura paraibana -Linaldo Guedes - A União

Enviado pelo colaborador Ranulfo Cardoso - clique no título e leia toda matéria .


Linaldo Guedes J.Pessoa.PB  - A União jornal -


Um ano pródigo para a literatura paraibana. Assim foi 2015. Com muitos lançamentos, algumas estreias e vários; autores da terra premiados nacionalmente. Além de eventos e o surgimento de grupos de poesia. O ano foi encerrado com dois prêmios nacionais para escritoras do estado. Débora Ferraz ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura com o romance “Enquanto Deus não está olhando”, que havia sido vencedor do prêmio Sesc. E a A escritora Maria Valéria Rezende foi a grande vencedora do prêmio Jabuti de Literatura este ano, com o romance “Quarenta Dias”, lançado pela Editora Objetiva. Antes, no início do ano, o escritor Wander Shirukaya lançou em João Pessoa a obra “Ascensão e Queda”, vencedora do Prêmio Pernambuco de Literatura de 2014. 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Melhores(?) dos últimos dez anos.




Melhores obras dos últimos 10 anos

Não sou afeito a falar dos melhores, nem dos piores, acho inseguro, e às vezes inútil; é querer sempre compartimentar o nao compartimentável, é querer criar estereótipos, mas uma revista pediu-me e não publicou, assim aproveito para enviar a minha relação, correndo os riscos que assumo, todos, esclareço que considerei poemas, ensaios e romances.

MELHORES - ÚLTIMOS 10 ANOS-


1-O vento que arrasta –(2015 )Selva Almada-Cosac.
Chaco Argentino,estrada.Súbito problema no carro, pai e filha fazem uma parada na oficina mecânica - Gringo, local onde se desenrolará  a trama. Conhecem o jovem ajudante Tapioca. O divino e o cotidiano e  o imaginário, medeiam a vida dos personagens. A obra, com poucos personagens, finca um uma narrativa de beleza humana, ao mesmo tempo realista,contundente, como não se via na literatura Argentina, surpreendendo-nos com tamanha atualidade universal.

2-Eles eram muitos cavalos (2001),  Luiz Ruffato-,Boitempo.

Luiz Ruffato busca numa narrativa explosiva sintetizar algo não sintetisável, por sua absurda complexidade: a cidade de São Paulo. São 69 episódios em que  Ruffato usa de recursos formais para construir uma  narrativa de  caos e seus personagens comuns e absurdos,” gente habituada a ser coadjuvante em sua própria biografia”.

3-Becos da memória (2006), de Conceição Evaristo-,Mazza Edições

O desmonte  de favela em Belo Horizonte, a partir de entao a autora faz aparecer um conjunto de personagens, com destaque para as mulheres, que se deslocando e nas suas falas carregam consigo seus corpos e suas histórias. Uma sistese de um brasil anonimo e gritante.
4-Vermelho Amargo( 2009)- Bartolomeu Campos de Queirós-Cosac.

5--Desgraça J.M. Coetzee(2000) Cia das Letras.

6- Os Cus de Judas (1980) – Antonio Lobo Antunes (1942). Ed. Marco Zero

7-Geografia do Romance (2007)- Carlos Fuentes.Ed Rocco.

8-Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.(2003) Mia Couto.Cia das Letras.

9- Casa de Papel (2006) Carlos Mariá DominguézEd –Francis.

10-Poesia Completa Manoel de Barros(2010) Ed Leya


A obra contém toda sua produção até 2010, são vinte e um livros,,em que o poeta fala dos deslimites da palavra, a medida que aciona uma poética do falar nacional seu imaginário e o canto da terra e seus convivas, é um elogio ao verso simples com um estardalhaço lírico pouco antes visto em nossa literatura.