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sexta-feira, 10 de abril de 2009

Morales continua em greve de fome com o debate no Congresso paralisado


Morales continua em greve de fome com o debate no Congresso paralisado
Presidente da Bolívia reivindica lei que permita realizar eleições gerais este ano

O presidente da Bolívia, Evo Morales, continuou nesta sexta-feira sua greve de fome em reivindicação da lei que permita realizar eleições gerais este ano, mas o debate no Congresso sobre a norma está paralisado, após o abandono de vários legisladores da oposição. Morales permanece desde ontem em jejum no Palácio do Governo de La Paz junto com os líderes dos movimentos sociais que o apóiam, em um esforço, segundo disse esta manhã aos jornalistas, para fazer com que a crise vivida pelo país "se resolva de forma pacífica". Mas a poucos metros dos grevistas, no Congresso Nacional, o debate sobre o novo regime eleitoral se encontrava em suspenso, pela ausência de boa parte dos legisladores opositores. Este abandono aconteceu ontem após ser aprovada em primeira instância (não definitiva) a lei eleitoral. A sessão se desenvolveu no meio da polêmica, já que o presidente do Parlamento e vice-presidente do Governo, Álvaro García Linera, procedeu uma votação com a mão erguida de forma surpreendente quando muitos parlamentares da oposição estavam ausentes. Hoje, o senador opositor Carlos Borth, um dos interlocutores para pactuar a lei eleitoral, afirmou que a sessão do Congresso não será retomada até que se restabeleça a comissão negociadora, a fim de fechar definitivamente um acordo sobre o texto. Evo Morales pediu hoje que sejam estudadas medidas disciplinares para sancionar, no marco da nova Constituição, os parlamentares que "abandonam ou fogem" das sessões do Congresso. A greve de fome empreendida pelo governante para exigir a aprovação da lei eleitoral está sendo seguida por outras mil pessoas em todo o país.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Parlamento Françês derrota lei que pune usuários da Web

Ministra da Cultura, Christine Albanel.


Havia uma proposta para tirar do ar os usuários que baixavam materiais audiovisuais sem consenso com os sites, tomando isto como delito.A punição seria ter a web bloqueada , e mesmo pagando-provedor- não haveria acesso.A esquerda francesa obstruiu a lei.pacv

do Terra


Ficou definido, não sem grande confusão, que o poder executivo criará uma comissão e nomeará um presidente para a proteção dos direitos da criação e da internet.
Isso significa, trocando em miúdos, que o país criará um comitê destinado a avaliar até que ponto o compartilhamento de arquivo ou a violação das regras dos direitos autorais devem ser punidos – com a suspensão ao acesso à rede mundial de computados, por exemplo.
A bancada socialista, contrária ao projeto, ainda pretende levar adiante as discussões na Assembléia Nacional. Alguns deputados argumentam que apenas um tribunal tem direito de dizer se um cidadão é culpado ou inocente.
“Os direitos dos autores são indispensáveis, mas a caça aos piratas é uma fábula arcaica”, diz o deputado Christian Paul, do partido socialista. “É uma volta à idade média”.
Segundo o Le Monde, o deputado UMP, Patrice Martin–Lalande, vai ainda mais longe em seus argumentos. Ele defende que a internet é um direito fundamental, como a educação e a saúde. Para Lalande, o governo não apenas não deve punir os usuários como deve garantir o acesso à internet por meios públicos.
Nos Estados Unidos as punições aos usuários estão previstas desde o final de 2008. No entanto, elas foram pensadas por associações ligadas aos direito autorais e não pelo poder executivo.
A postura da ministra da cultura francesa também vai na contramão do parlamento europeu que, na semana passada, defendeu o reforço das liberdades fundamentais da internet.Christine Albanel, ao defender a postura punitiva, alinha-se a um pensamento conservador que tenta conter um movimento que, no fundo, não pode ser contido.
Será que a primeira dama Carla Bruni tem reclamado na queda das vendas dos seus CDs para Nicolas Sarkozy?
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aqui- abaixo uol
Governo francês decide punir pirataria online com corte de acesso à web
Por IDG News Service/França

Paris - Entre medidas governamentais para impedir pirataria, estão a inclusão de marcas d'água no conteúdo e criação de lista de infratores.
O governo francês planeja acabar com a pirataria de músicas e filmes online cortando o acesso à internet dos acusados de acessar o conteúdo ilegalmente.A decisão é parte de uma série de medidas para lidar com a cópia não-autorizada de vídeos e música online proposta pela Ministra da Cultura da França, Christine Albanel.Outras medidas incluirão marcas d’água no conteúdo, rastreamento de atividades dos internautas e criação de uma lista com o registro dos acusados.Em 2006, foi apresentada uma lei que torna o compartilhamento de arquivos não-autorizado uma ofensa criminal, punida por até seis meses de prisão e multa de 45 mil dólares.“Não podemos aceitar por muito tempo que os artistas sejam privados dos frutos de seu trabalho”, declarou.O governo ganhou apoio da indústria de mídia, que irá implementar as marcas d’água e popularizar o download legal de filmes. Christiane assinou, nesta sexta-feira (23/11), acordos com canais de TV, provedores de internet e grupos que representam cineastas, autores e músicos
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abaixo Ministério da Cultura Brasil
França: Legislação repressiva ou ridícula?
Fábio de Oliveira Ribeiro - Observatório da Imprensa
A exemplo do que ocorre no Brasil, o Direito Penal da França não possibilita a responsabilização de alguém pela conduta de outrem. Cada qual é responsável apenas pelos seus próprios atos.
A França já aprovou uma Lei através da qual pretende restringir o direito dos internautas de divulgarem conteúdos na web.
Agora, o Poder Legislativo da França “…pretende vetar o acesso à internet aos usuários que fizerem downloads ilegais de filmes ou músicas. O acordo entre o governo, provedores de acesso e os detentores de direitos autorais desses bens culturais vai beneficiar a indústria fonográfica, que afirma que esse tipo de troca de arquivos prejudica suas vendas. Os provedores enviarão mensagens aos seus usuários alertando que estão praticando atos ilegais. Se o aviso for ignorado, a conta do usuário será suspensa ou cancelada” (fonte: Jornal de Debates, IG).
Ah, esses legisladores franceses! Será que eles não perceberam que a jurisdição penal francesa só se aplica aos fatos ocorridos dentro do território da França? Se alguém dentro da França postar algo na internet que viole a referida Lei poderá ser punido. Todavia, contornar a legislação repressiva é perfeitamente possível.
Responsabilidade pessoal
A Constituição da França e os tratados internacionais subscritos por aquele país (inclusive, os que se referem à construção da União Européia) garantem a todos os franceses o direito à liberdade de consciência e expressão, bem como o direito ao sigilo de sua correspondência. Nenhum jurista decente duvida de que os e-mails podem ser equiparados às cartas, de maneira que também estão cobertos pela garantia de sigilo.
A exemplo do que ocorre no Brasil, o Direito Penal da França não possibilita a responsabilização de alguém pela conduta de outrem. Cada qual é responsável apenas pelos seus próprios atos.
O espírito de Clouseau
Sendo assim, se algum francês enviar os arquivos que pretende divulgar na internet para um colega de outro país (Inglaterra, Bélgica ou Portugal, por exemplo) e a divulgação do arquivo for feita num website da própria França, nada irá ocorrer. A propósito, nada também poderá ocorrer ao francês se ele receber o arquivo proibido anexado a uma mensagem de seu colega inglês, belga ou português. Afinal, o francês não poderá ser responsabilizado pelo que o outro internauta postar na web e o autor da mensagem, com o arquivo proibido, estará fora da jurisdição francesa.
Tudo bem pesado, parece que os legisladores da França não perceberam que sua atitude irá apenas reforçar a solidariedade online. A avalanche de violações à Lei recentemente aprovada submeterá o legislativo da França ao ridículo. Será que os gloriosos legisladores franceses estão atuando sob influência do inspetor Clouseau?
A república francesa foi construída sobre três princípios: liberdade, igualdade e fraternidade. Já a internet francesa parece se resumir a uma expressão: repressão inútil.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

POETAR PARA O RUMOR DE SÃO PAULO



"Pelos ventos nativos, ruminantes,/ brincam pastores céleres de outrora./ Saltam leves, ligeiros, ou contemplam/ como quem doura o trigo e se abstrai".






O  poeta Francisco de Assis Lima, deu-nos uma obra a mais e desta vez, surpreendente nos seus versos que caminham sobre planos dourados de plenitude, de imaginação e garra de guerreiro nordestino; pastor de belezas e de contemplações que só quem tem rebanho de beleza poética e olho que cheira e admira, pastora e "abstraindo" as paisagens verte belezas.Tá lá no livro, leiam e embelezem-se.
Paulo A C Vasconcelos




A Revista Rascunho do Paraná, especializada e respeitada no campo da Literatura entendeu bem o recado de Francisco:





Críticas e Resenhas


DEDICAÇÃO E TRABALHO
Álvaro Alves de Faria • São Paulo – SP
Poemas arcanosAssis LimaAteliê84 págs.
Francisco Assis de Sousa Lima. Este é o nome de um poeta. Diante de tantas festividades e vaidades afloradas, diante de tanta gente que não é o que pensa ser, eis que surge um livro de poesia, de um poeta cearense. Francisco Assis de Sousa Lima. Este é seu nome. Um poeta. Psiquiatra e pesquisador em cultura popular. Nesta área publicou Conto popular e comunidade narrativa. O poeta reuniu poemas escritos ao longo de 30 anos. O resultado é resplandecente, e a expressão é essa mesma. Basta ver o livro Poemas arcanos, que ele assina apenas como Assis Lima. Assis Lima é o nome do poeta que, ao meio desses escombros, surge do Ceará, nascido em Crato. De vez em quando é bom ver um livro de poesia. E isso, em relação à literatura inclui, também, o caráter duvidoso de muitos que julgam ter a grandeza que nunca terão. Mas a poesia ainda existe. De alguma maneira, apesar de tudo, ainda existe poesia no Brasil. Ainda existem alguns poetas. Só alguns, mas existem. Prova disso é este livro. Lima abre seu livro com palavras de um autor anônimo, para melhor situar seu poema e o que pensa, afinal, da própria poesia e da existência, existência mesmo, sem discursos: "O mistério é protegido não pelo segredo, mas de outra maneira. A sua proteção é a sua luz, ao passo que a proteção do segredo é a obscuridade. Quanto ao arcano, que é o grau médio entre o mistério e o segredo, é protegido pela penumbra. Porque ele se revela e se oculta por meio do simbolismo. O simbolismo é a penumbra dos arcanos". A verdade é que a poesia de Assis Lima se impõe por uma qualidade cada vez mais difícil neste país de gente que se diz poeta e faz da poesia um cartão de visita para expor a vaidade dos imbecis. Assis Lima sabe que não é assim. A poesia é a poesia, ela mesma, sem mais nem menos. O poema se constrói com dedicação e trabalho, exercício existencial e não mecânico e com o alarde dos que se julgam sábios: "Minhas certezas são poucas,/ são pulsações que nem peço./ Trago uma herança de medo/ e a dor de um banzo tão velho/ que já não posso, nem quero,/ suportar tamanho peso". O poeta fala da sua dor de ser, quando ser parece impossível. As pessoas que andam procurando boa poesia para ler devem sair em busca deste livro. Um livro que se impõe pela beleza. Um livro de poesia que se impõe só pela poesia, sem aquela movimentação ridícula da política literária, que manda e desmanda, faz e acontece. Não. Assis Lima apenas mostra sua poesia, uma poesia que é poesia. Como estes quatro versos, início de um soneto. É, um soneto!: "Pelos ventos nativos, ruminantes,/ brincam pastores céleres de outrora./ Saltam leves, ligeiros, ou contemplam/ como quem doura o trigo e se abstrai". Destaque-se, especialmente, os seis poemas que compõem a parte Temas para Lua Cambará: "O tempo me ensinou a ruminar./ Eu rumino o bredo dos séculos que comi". Poemas arcanos é um livro de poemas e de poesia. Sem discursos inócuos. Isso é o que mais se vê, especialmente em causa própria. Neste livro de poesia, o poeta narra o que vê e se envolve, até porque poesia sem envolvimento não é poesia. É outra coisa que nem convém dizer.

WARHOL Expo:Espírito Santo


Não porque sou Nordestino, mas fico feli em iniciativas primeiras iniciar NÃO pelo centrão econômico, caso desta exposição que inicia pelo ES e vai para o Nordeste, e só depois vem ao Rio e São Paulo.

pacv

.......Museu de Artes do Espírito Santo, em Vitória, onde, desde quinta-feira,02.04.09, está aberta a exposição itinerante Andy Warhol - Arte e Práticas para o Dia a Dia. "O próprio nome da mostra já revela nosso propósito", explica a curadora americana Jessica Gogan, do Andy Warhol Museum, de Pittsburgh, responsável pela concepção da exposição. "A obra de Warhol estava centrada na prática de reinvenção do cotidiano, ou seja, ele buscava elementos que as pessoas comuns viam como banais para transformá-los em aOs curadores tomaram o cuidado de selecionar obras palatáveis ao grande público - daí as serigrafias de pessoas famosas como Jane Fonda, Lenin e Liza Minnelli, além de polaróides de Mick Jagger, Arnold Schwarzenegger e autorretratos de Warhol. E, por se tratar de uma exposição aberta a todas as faixas etárias, evitou-se prudentemente as obras de conotação sexual mais acentuada, como os filmes filosóficos-pornográficos interpretados por Joe Dallesandro.Ao se divertir fazendo serigrafia ou deixando sua imagem gravada, porém, o visitante desconhece que está reforçando a opinião dos principais críticos à obra de Warhol, acusado de substituir a criação pelo sensacionalismo, de supostamente transformar o marketing em arte; enfim, de transformar a Pop Art em uma vertente medíocre das propostas do dadaísmo.Jessica Gogan prefere evitar uma discussão que parece não ter fim para exaltar o incentivo da prática artística. "Warhol era um artista cuja criatividade não tinha limite, o que nem sempre era facilmente compreendido", diz ela, amiga da diretora do Museu de Artes do Espírito Santo, Leila Horta, cujo empenho facilitou ser ali o primeiro ponto brasileiro a receber a exposição. Em julho, quando terminar a temporada capixaba, a mostra deve seguir para o Recife e, provavelmente, Fortaleza.No ano que vem, deverá ser a vez do MAC de Niterói, no Rio. Em São Paulo, os curadores esperam ocupar a Pinacoteca, ainda sem data prevista."

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estadão 06.04.2009


segunda-feira, 6 de abril de 2009

CULT DOSSIÊ FOUCAULT

Excelente edição com vários textos, com destaque para o texto de :PETER PAL PELBART-Fala dos confins - O lugar da literatura na obra de Foucault.
Paulo A C V

domingo, 5 de abril de 2009

A Literatura Através do Cinema - Realismo, Magia e a Arte da Adaptação

O estadão publicou -DOMINGO -05.04.2009

Sessão de livros
De D. Quixote a Macunaíma, A Literatura Através do Cinema, do americano Robert Stam, analisa a relação entre as duas artes
Luiz Zanin Oricchio
Tamanho do texto? A A A A
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O livro é melhor que o filme. Quem já não ouviu esse clichê sobre as adaptações literárias para o cinema? A frase feita conota o cinema como arte menor, subordinada à literatura, este sim o modo nobre de expressão por seu prestígio e antiguidade. No entanto, segundo o pesquisador norte-americano Robert Stam - autor de A Literatura Através do Cinema - Realismo, Magia e a Arte da Adaptação (Editora da UFMG, 512 págs., R$ 79) -, Orson Welles foi quem melhor entendeu a estrutura narrativa de Dom Quixote. Jack Gold enxergou em Robinson Crusoe a misoginia colonialista que Daniel Defoe não pôde ver. E durante a ditadura militar, Joaquim Pedro de Andrade tirou de Macunaíma uma leitura política com a qual Mário de Andrade não havia sonhado. Ou seja, muitas vezes é o cinema que ilumina uma obra, ao dialogar com ela sob a forma da adaptação. A lição que se tira do livro é de uma nova dignidade concedida à arte da adaptação.Stam é autor de trabalhos seminais como O Espetáculo Interrompido e Crítica da Imagem Eurocêntrica, estudos que colocam as teses do russo Mikhail Bakhtin e ideias do multiculturalismo em funcionamento para debater a posição do cinema no contexto da cultura. Procura sempre relacionar política e estética, com ganho significativo de compreensão em relação a esses dois domínios interdependentes. O pesquisador viveu muitos anos no Brasil e é profundo o seu conhecimento do cinema nacional. É também autor, em parceria com Randall Johnson, do indispensável Brazilian Cinema, ainda sem tradução. Bob, como os amigos o conhecem por aqui, tem filho brasileiro e essa é uma das razões, mas não a única, para manter laços permanentes com o País. É professor titular na New York University, onde leciona matérias relacionadas ao multiculturalismo e mídia, cinema brasileiro e latino-americano e nouvelle vague. Atualmente, está em Princeton, como professor convidado.Em A Literatura Através do Cinema, para mostrar o que acontece no percurso entre as páginas e as telas, Stam vale-se de algumas obras literárias referenciais, "canônicas". Em primeiro lugar, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, considerado o primeiro romance moderno. Como contraponto, entra Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, por representar a vertente oposta ao Quixote. Se a obra de Cervantes é um tipo ideal da tradição paródica e autorreflexiva, a de Defoe se filia à vertente mimética, "realista". O Quixote é a fonte de romances como Tom Jones, de Henry Fielding, ou Tristram Shandy, de Laurence Sterne, que ostentam seus próprios artifícios e técnicas de construção. Já Robinson quer simular que é apenas relato de algo real, que de fato aconteceu. São polos opostos, talvez complementares. "A tensão entre a magia e o realismo, a reflexividade e o ilusionismo, tem alimentado a arte", diz Stam.Nessa tensão, resolver em imagens (e sons) o que é da ordem da palavra escrita tem sido desafio permanente para os cineastas. Pela posição que ocupa na cultura ocidental, mas também pelo fascínio do personagem, compreende-se que o Quixote tenha sido um dos livros mais adaptados de todos os tempos. Suas "versões" para a tela contam-se às dezenas. Stam escolhe uma delas de maneira privilegiada - a de Orson Welles. Justamente uma adaptação incompleta, de produção acidentada, que não foi montada pelo próprio autor. Mas talvez por isso mesmo seja tão interessante. O Quixote era para ser apenas um conto. Tornou-se um romance ("o" romance), deu margem a plágios e obrigou Cervantes a escrever um segundo volume com as aventuras do cavaleiro e do escudeiro Sancho. Neste segundo livro, aparecem personagens que já conheciam Quixote e Sancho pela leitura do primeiro volume, num procedimento intertextual que faz a modernidade precoce da obra.Stam analisa a versão do Quixote do soviético Grigori Kozintsev, bastante colada ao original. Mas privilegia a leitura de Welles, porque mais próxima do espírito da obra. "Acontece que Welles acreditava em adaptações infieis", escreve. "Por que adaptar uma obra, dizia ele, se você não pretende modificar nada nelas?". Welles tinha usado esse procedimento com Shakespeare, Conrad e também H.G. Wells, na famosa versão radiofônica de A Guerra dos Mundos que causou pânico nos EUA e tornou-o famoso. Assim, apega-se a algumas características do Quixote e as transpõe sem cerimônia para a tela. O anacronismo, usado por Cervantes, é escancarado no filme. Sancho, por exemplo, se maravilha com uma "caixa de novidades", ou seja, com um aparelho de televisão. No fim do filme, Quixote não se espanta que astronautas cheguem à Lua; apenas teme pela mecanização do homem. O próprio Welles é ouvido no filme, em voz over, e também é visto, filmando. "Welles deleita-se com a linguagem e o estilo do romance", comprova o pesquisador.Já com Robinson Crusoe a história é outra. O personagem, segundo Stam, encarna o individualismo possessivo em sua forma mais extrema. Solitário em sua ilha, ocupa-se em aparelhá-la para o conforto burguês e sua relação com Sexta-Feira é instrumental, sem contar que Robinson havia ficado rico graças ao comércio escravista no litoral da Bahia. As relações da obra com o cinema são precoces. Basta lembrar que Méliès a adaptou, logo em 1902. Há mesmo um Robinson Crusoe brasileiro, com Costinha e Grande Otelo nos papéis principais. Luis Buñuel rodou uma versão do romance em sua fase mexicana, estranhamente conservadora segundo Stam, e mesmo assim pontilhada de achados surrealistas e anticlericais. O notável é que Buñuel tenha "suavizado" o personagem, tornando-o "mais gregário e sociável", o que significa uma crítica ao ideário colonial implícito ao texto. Ainda assim é pouco, e Stam bate duro: "A adaptação de Buñuel é de uma conivência frustrante com as convenções racistas e imperialistas que informam o romance de Defoe."Outro clássico dos mais adaptados foi Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Há várias versões, entre as quais a do americano Vincente Minelli, e as dos franceses Jean Renoir e Claude Chabrol. O destaque fica para Chabrol, por sua afinidade eletiva em relação a Flaubert - ambos cronistas do tédio provinciano. Dito isso, a riqueza estilística do original de Flaubert parece ter ficado longe de suas versões no cinema. Nenhuma delas, constata Stam, foi tão inventiva em sua linguagem quanto foi o romance de Flaubert para a literatura da época. O mesmo reparo o pesquisador usa para as adaptações de Lolita, de Vladimir Nabokov, feitas por Stanley Kubrick e, depois, por Adrian Lyne, ambas aquém das possibilidades abertas pelo romance. A de Kubrick, por pressão da censura; a de Lyne, pelo contrário, por uma excessiva erotização do "texto" fílmico e consequente perda de sutileza.Em seu diálogo permanente com o Brasil, Stam destaca várias adaptações, como a de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, feita por André Klotzel, por exemplo. Entende que faltou à (boa) versão o substrato antiescravagista presente no subtexto machadiano. Nesse sentido, o de aproveitamento máximo das potencialidades de um romance, o destaque ficaria para Macunaíma, o romance-rapsódia escrito por Mário de Andrade em 1928 e adaptado por Joaquim Pedro de Andrade 40 anos depois. Segundo o pesquisador, "poucas vezes um filme realizou com tanto brilhantismo as possibilidades políticas e artísticas da adaptação..." Essa versão, realizada na voragem da ditadura militar, condensa o modernismo do Cinema Novo, a Tropicália emergente e a política radical revolucionária do terceiro-mundismo da Tricontinental. Em sua versão, Joaquim Pedro insiste na crítica à repressão militar e ao "capitalismo predatório do efêmero milagre econômico", através do voraz capitalista Venceslau Pietro Pietra.No livro, Stam procura arar em campo fértil ao "desprovincializar" os estudos da literatura e do cinema, fazendo de ambas artes participantes de uma extensão transtextual mais ampla. Iluminam-se mutuamente e se enriquecem. Sobretudo quando dialogam e intercambiam linguagens. É um ganho para ambas, e certamente para a cultura de maneira geral.
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COMENTÁRIOS

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Uma das seis salas do projeto de 20.000 metros quadrados levantado no centro histórico de Barranquilla, estará dedicado a vida e obra del Nobel nascido em Aracataca.