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terça-feira, 9 de março de 2010

Última gravação de Zé Rodrix dá corpo a canções francamente românticas


No início dos anos 70, entre o protorrock nacional e as canções de protesto, diferentes movimentos musicais emergiam, buscando lugar entre a herança bossanovista e a conexão com um público jovemNelson Gobbi, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - No início dos anos 70, entre o protorrock nacional e as canções de protesto, diferentes movimentos musicais emergiam, buscando lugar entre a herança bossanovista e a conexão com um público jovem.

Abrigados no gênero guarda-chuva MPB, os próprios grupos e artistas ganharam rótulos que, se por um lado davam uma unidade necessária à sua entrada no mercado fonográfico, por outro não contemplavam com exatidão todas as nuances de suas propostas, a exemplo do rock rural, que reuniu nomes como O Terço, Zé Geraldo e Sá, Rodrix e Guarabyra. O trio - e posteriormente dupla, com a saída de Zé Rodrix em 1973 – construiu sua trajetória dividido entre as referências do início da carreira e a adesão à canção popular. Reunidos novamente após 2002, com o lançamento do CD e DVD ao vivo Outra vez na estrada, os três souberam manter este equilíbrio em Amanhã, disco com 12 músicas inéditas que chega às lojas quase um ano depois da morte de Rodrix.

Riqueza instrumental

O mérito mais evidente do álbum é a falta de pudor em ser popular, em que pese a sofisticação dos arranjos, que muitas vezes remetem às experiências do início de carreira, a exemplo do tema de abertura, Sonho triste em Copacabana. A produção de Tavito – que traz ao estúdio uma riqueza instrumental cada vez mais rara atualmente, até mesmo em obras de medalhões da MPB – dá corpo a canções francamente românticas, como a faixa-título, Nós nos amaremos, Logo eu saudade e Amar direito, com seu belíssimo arranjo de acordeon. Apesar de Os dez mandamentos do amor pesar demais a mão e destoar do clima do disco, todas as outras têm potencial para figurar junto a sucessos da dupla Sá e Guarabyra como Dona e Espanhola.

A vertente “rural” do trio ganha reforço com Cidades meninas, compostas sobre municípios mineiros batizados com nomes femininos, a ecológica Dia do rio e a neo hippie Caminho de São Tomé. Mesmo nas faixas de temática urbana, as quais ressaltam a origem carioca do grupo, está presente a ambiguidade das referências do campo e da cidade, a exemplo da já citada Sonho triste em Copacabana e Novo Rio, que cria um diálogo interessante entre Futuros amantes, de Chico Buarque, e outro de seus sucessos enquanto dupla, Sobradinho.

É impossível deixar de relacionar o caráter póstumo legado ao disco a uma de suas melhores composições, Marina, eu só quero viver, na qual versos românticos como “Eu não quero fazer a viagem/ Me faltam dois contos e um pouco de coragem” remetem involuntariamente à perda prematura de Zé Rodrix. Talvez, contudo, seja essa a melhor forma de homenagem, com a mesma despretensão e espontaneidade com que o trio compôs uma das melhores músicas da década de 70, Mestre Jonas.

21:39 - 08/03/2010

Mulheres tiram a roupa para protestar contra presidente mexicano




Cinco mulheres ficam nuas como protesto no México Foto: AFP
Agência AFP

CIDADE DO MÉXICO - Cinco mulheres ficaram nuas na segunda-feira à noite dentro da Câmara dos Deputados, na capital mexicana, para pedir a revogação do mandato do presidente Felipe Calderón, informou a agência de notícias do Legislativo do México.

- Nos despimos para desnudar o governo de Calderón - indicava um cobertor exibido pelas nudistas que gritavam "fora Felipe Calderón", frase que também foi escrita em seus corpos, indicou a Notilegis, agência legislativa de notícias.

As mulheres entraram na Câmara com a ajuda de Gerardo Fernández Noroña, deputado do Partido do Trabalho (esquerda) e se manifestaram nuas com capuzes negros para não serem identificadas.

Elas protestaram em nome do "Comitê Nacional Civil para a Revogação de Mandato" do presidente Felipe Calderón e pediram uma consulta nacional em maio, acrescentou a Notilegis.

Em seu manifesto, as manifestantes se referiram às mulheres assassinadas em Ciudad Juárez, às presas de consciência, às estupradas pelo Exército em operações de combate às drogas e às que são proibidas de abortar.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Para ONU, Lei Maria da Penha é uma das mais avançadas do mundo

by JC Recife Pe leia mais lá


A Lei Maria da Penha, que tornou mais rigorosas as penas contra crimes de violência doméstica, é considerada pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) uma das três leis mais avançadas do mundo, entre 90 países que têm legislação sobre o tema.

Em vigor desde 2006, a lei trouxe várias conquistas, entre elas facilitou a tramitação das ocorrências de violência doméstica e familiar contra mulheres com a criação de juizados e varas especializadas. A primeira foi criada em Cuiabá, onde atualmente existem duas varas, cada uma com cerca de 5 mil processos em tramitação.

Segundo a juíza Ana Cristina Silva Mendes, da 1ª Vara de Cuiabá, a implantação da lei aumentou o registro de ocorrências.

“As pessoas estão convencidas de que dá resultado, que não acaba em cesta básica. Hoje se prende por ameaça, antes que vire homicídio. Bater em mulher era cultural. Estamos mudando essa cultura”, afirmou a juíza.

Já a promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo de Gênero Pró-Mulher do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MDFT), Laís Cerqueira, destaca que a Lei Maria da Penha esbarra no aspecto punitivo.

“A sociedade ainda não consegue ver a violência doméstica como um ato de violação aos direitos humanos. Temos uma legislação avançada. Garante-se a proteção, mas há dificuldades no aspecto punitivo. Existe resistência em se punir o homem como autor da violência”, destacou.

A mulher vítima de agressão deve se dirigir a uma Delegacia Especial para Mulheres (Deam). Após o registro, a delegacia tem 48 horas para encaminhar a ocorrência ao juizado ou à vara especial que terá prazo igual para analisar e julgar o caso.

Segundo a promotora, hoje as mulheres podem registrar ocorrências policias de forma tranquila e pedir medida de proteção, como o afastamento do marido do lar, a proibição de contato e da visita aos filhos e a perda do porte de arma. Entretanto, em alguns casos, os prazos de tramitação da ocorrência não são cumpridos e muitas mulheres desistem da acusação.

“Na prática esse pedido [de medidas de proteção] não é avaliado pelo juiz sem ter uma audiência com a mulher, para verificar qual o tipo de agressão, se é realmente necessário tirar o homem de casa. Isso, na minha avaliação, já é uma violação à lei”, argumentou.

A promotora considera um retrocesso a decisão sobre a Lei Maria da Penha tomada no dia 24 de fevereiro pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A determinação é de que o Ministério Público só poderá propor ação penal nos casos de lesões corporais leves com a presença da vítima.

“A alegação é de que sendo uma lesão leve, como olho roxo ou braço quebrado com recuperação em menos de 30 dias, o Ministério Público não pode agir independentemente da vontade da vítima, pois estaria interferindo na autonomia da mulher e talvez impedindo uma reconciliação”, criticou Laís Cerqueira.

O Ministério Público do Distrito Federal pretende ir ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão

Fonte: Agência Brasil

domingo, 7 de março de 2010

Mulheres sem terra reocupam fazenda no Agreste do Estado

Publicado em 07.03.2010, às 14h08

Com a reocupação, na manhã deste domingo, da Fazenda Uberaba, no município de Bonito, no Agreste pernambucano, mulheres sem-terra ligadas ao MST deram início à Jornada de Lutas das Mulheres da Via Campesina, em comemoração ao Dia da Mulher. Neste ano, o tema da jornada é "contra o agronegócio e contra a violência: reforma agrária e soberania alimentar"

A Fazenda Uberaba é reivindicada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) desde 2004. EsTa foi a quinta reocupação. De acordo com Gilberta Araújo, da coordenação regional, as mulheres lideraram a reocupação acompanhadas de crianças e com o apoio de alguns homens. "Cortamos a cerca, entramos e até agora não houve problemas", afirmou ela, que disse aguardar a vinda da proprietária, ainda hoje para negociar.

Os sem terra permanecem, de acordo com Gilberta, em uma estrutura desativada, onde funcionava uma estrebaria de cavalos. Enfrentam dificuldade para conseguir água e forte calor, sob sol forte

A direção estadual do MST prevê novas ações das mulheres até a noite desta segunda-feira (8)

A UNE na Ditadura Militar

No apogeu militar, a União Nacional dos Estudantes, caracterizada como Movimento Estudantil desempenhou o papel de oposição ao autoritarismo e luta pela liberdade democrática. Juntamente com as Uniões Estaduais Estudantis, as UEE’s, a UNE foi posta na ilegalidade devido ao incêndio causado por participantes do movimento militar e passou a atuar na clandestinidade a partir de 1966.
Nesse período tudo o que era de ordem estudantil ficou em posse do Ministério da Educação (MEC), consequentemente, qualquer movimentação estudantil contra a Ditadura ficaria no poder do Estado.

Em 1966 o presidente Castelo Branco criou o Movimento Universitário para o Desenvolvimento Econômico e Social (Mudes).

Neste contexto as passeatas e organizações estudantis se tornaram ainda mais reprimidas, devido a isto, os estudantes se sentiram motivados a agir cada vez mais, contra a opressão e violência da Ditadura. Com este apoio estudantil, a UNE decretou a segunda greve geral e elegeu o dia 22 de setembro como o Dia Nacional da Luta contra a Ditadura. Em 1968, a terceira greve geral estudantil promovida pela UNE, teve como objeto de luta, a morte do estudante Edson Luís Lima Souto, no fechamento do restaurante Calabouço, o que mais tarde derivou na Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, e em outros movimentos desencadeados a partir dessa morte, que segundo historiadores, foi a primeira vítima da Ditadura Militar.

Devido ao decreto do Ato Institucional nº5 (AI-5), em dezembro de 68, houve uma mudança na atuação dos estudantes manifestantes da UNE, já que grande parte fora preso ou exilado devido ao decreto, a União passou a agir de forma mais discreta, como por exemplo, uma missa de dois anos da morte do estudante Edson Luís.

sábado, 6 de março de 2010

A Academia e os novos tempos


por Estadão leia mais lá

Marcos Vinicios Vilaça


O século 21 trouxe uma necessidade ainda maior de se ampliarem os trajetos no sentido de que a Academia Brasileira de Letra seja mais vista e ouvida. Há - e está bem aos nossos olhos - uma geração que parece ter nascido com controle remoto e mouse à mão. Basta um clique e a tela muda. Portanto, é vital que nos afinemos com os moços.

Desde a adoção do alfabeto na Grécia antiga, passando pela invenção da imprensa com os tipos móveis do Renascimento, não há nada mais revolucionário do que a chegada do digital. Até ontem, por exemplo, toda plataforma para ler era modulada de forma passiva e indireta pela luz do sol ou pela lâmpada. Hoje, o fundo emite luz e nós teclamos sobre seu fluxo, e o fundo sobre o qual aparecem letras e imagens é fonte de luz ativa.

Nada anula a atração de elucidar o alcance dos novos usos. E uma Academia de Letras também está obrigada, na contemporaneidade, a refletir sobre linguagem e tecnologias, do contrário ficará como sombra, ao perder a fonte de irradiação.

A Academia examina mais opções na internet, twitter, e-books e tudo mais que este século nos trouxer de novo. Independentemente do kindle, mesmo que se argumente que o leitor com ele se dispõe a carregar nas mãos 3.500 livros, e mesmo que exija pouco espaço para até milhares de livros, sabemos que não serão superados os incomparáveis prazeres táteis e cerebrais dos livros de papel. Ainda assim, claro está que, se não preenche o imaginário da leitura literária, não nos enganemos sobre a força que o e-book exercerá no futuro em relação ao livro didático.

Não somente por isso, mas também, e principalmente, por isso, nós nos tornamos uma casa aberta a toda forma de cultura. Unir a literatura a todas as formas de manifestação cultural, como artes plásticas, desenho, cinema, música e teatro, entre muitas outras, mais novas ou não, é o objetivo da casa. Temos, de letras, o sentido das humanidades, não apenas o de letras literárias.

Mais de um século separa as obras de um Degas, por exemplo, da era digital. No entanto, em muitos museus essas obras e a computação estão integradas em perfeita combinação artística. Especialistas temem que o homem esteja a inaugurar uma cultura autodestrutiva - uma cultura da incultura. É possível que haja nisso alguma razão. É também possível que haja nisso algum exagero. Mas uma coisa é certa: nada anula a atração de elucidar o alcance de novos usos.

O tempo presente nos põe em alerta sobre o que significam para a cultura as instantaneidades da comunicação. Diversidade cultural é fator de coesão, e não caminho de fragmentação. Cultura há de ser, portanto, a unidade dos momentos, o que é bem diferente de ser mera unicidade. Por isso pretendemos estabelecer de forma gradual, ininterrupta e coesa uma aliança com o País que ainda está chegando. Sem esse enlace, no futuro não haverá como preservar a tradição. Seremos pó. E as cinzas não aquecem.

A Academia reivindica, por sua representatividade, que nada pode ser decretado no âmbito da cultura sem que passe pela nossa casa. Damos exemplos: direito autoral é assunto que deveremos afinar, a internet não pode aparecer como plataforma hostil ao arrepio dos direitos do usuário, a proteção à obra não pode inibir a sua apropriada divulgação no equilíbrio do interesse econômico e do interesse público.

Este ano a Unesco se dedicará ao que denominou "Ano da Aproximação das Culturas". Nada mais aliciante. A indiferença no que toca às diferenças culturais mata a capacidade de compreender. A diversidade é fator de enriquecimento mútuo. Nada de amnésia. A memória alimenta a capacidade criadora. Essa compreensão, esse conhecimento nos põem aptos a fazer da cultura um fator de emancipação, de descobrimento e de justiça.

Nós nos orgulhamos muito de que a Academia seja em grande parte o contraste dentre dois homens inseparáveis: Machado de Assis, o humilde que se fez aristocrata das letras; e Joaquim Nabuco, que, pertencendo à hierarquia do Império, se fez humilde, para melhor escutar os gritos de liberdade.

A Academia comemorará, como não poderia deixar de fazê-lo, o centenário de morte de Joaquim Nabuco, com permanente curiosidade e completa empatia, tal como fez em relação a Machado de Assis. Estamos a promover ciclo de conferências e reedição de algumas de suas obras. Iremos a Londres e a Washington para comemorações especiais com a intelectualidade dessas cidades, nas quais serviu como embaixador. Nabuco, como homem público, é precioso emblema de ética na política.

Como um operador da transformação social, trouxe o povo para o combate pela liberdade. Temos certeza, certeza acadêmica, de que os brasileiros estarão ainda mais convencidos da sabedoria dele, recordando o que, em 1909, escreveu no Diário pessoal: "O corpo pode ser demolido, não o seja nunca o espírito." E juntos atentaremos para a lucidez de quem, há cem anos, enxergando da vida o claro/escuro e mesmo já com a voz a falhar, segredou ao médico que o atendia: "Doutor, pareço estar perdendo a consciência... Tudo, menos isso!..."

Temos certeza, também, à sombra desses dois exemplos clássicos, que aos intelectuais compete lutar para que se impeça concentração de poder, com amargo sabor totalitário. Democracia não é só o voto na urna, mas, igualmente, o acesso cotidiano à justiça e à repartição dos frutos do crescimento econômico e do desenvolvimento social. A Academia não se senta, nem se sentará, na plateia para se ausentar do palco. Sem deixarmos de ser gente, queremos ser a Academia. Não permitiremos a atitude tribal de fechar a casa. Há muito fizemos a abertura. Sua claridade tem de estar em movimento. Irreversivelmente.

Marcos Vinicios Vilaça é presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Folha e os direitos humanos



http://www.novae.inf.br
Chico Villela













A Folha trilha com veemência o caminho da Veja, tomada pelo que Luis Nassif chama (alguns) de ‘jornalistas de esgoto’. Irmana-se assim ao grupo Globo na falsificação sistemática da informação em defesa de interesses, sempre identificados, de empresas e governos e candidatos, seus ou favoráveis ao império, ou do próprio império, como se registra na edição do dia 27/2/2010.

Cuba, Lula e direitos humanos
A visita de Lula a Cuba, marcada pelo seu comportamento dúbio ante a presença de presos políticos e dissidentes e a morte do preso de consciência Orlando Zapata Tamayo (que comentei e condenei um dia antes de essa imprensa grande reagir), agora vem sendo explorada ad nauseam, em harmonia com seus atos de falsificação jornalística que visam à campanha a presidente. A regra clara é: destruir Lula e o PT para destruir Dilma, principalmente agora que Dilma encostou em Serra e Aécio espera para decidir mais tarde, de olho na desistência de Serra e na abertura de seu caminho para a candidatura, ocasião em que seria praticamente imbatível. A missão da Folha é facilitada por declarações oportunistas, como a do assessor internacional Marco Aurélio Garcia em Cuba, de que direitos humanos são problema em todo o mundo. São, claro, mas isso não pode servir de escudo a gestos de omissão.

Essa história, tudo indica que ficará em foco na Folha durante muito tempo: rende condenações e votos contra Lula, e na edição de hoje rendeu muitas páginas, editorial e matérias. Mas a debilidade reside em que a questão dos direitos humanos na Folha refere-se sempre aos adversários do império: para a Folha, há problemas de DH na China, na Rússia, no Irã, em Cuba, na Venezuela, em Mianmar, por aí. A questão da liberdade de imprensa, cara à Folha e aos senhores da Sociedade Interamericana de Imprensa, donos de reservas e monopólios dos meios, falsifica com lente grande a questão da Venezuela, por exemplo, ignorando que Chávez tem feito mais para democratizar a imprensa do que todos esses senhores ilustres juntos. Hoje, primeiro dia de março, esses senhores da grande imprensa fazem reunião e festa com seus promotores, agentes e servos remunerados em São Paulo, sob as asas do suspeito Instituto Millenium.

Aliados fascistas e os DH
A julgar pelo noticiário e análises da Folha, que, insista-se, reproduz poucos meios dos EUA e uma e outra imprensa britânica, nos EUA, não há problemas de direitos humanos. Nem no Egito, aliado dos EUA e governado pelo ditador retrógrado e torturador (veja uma mostra rápida de alguns deles) que caminha para seus trinta anos de tirania e promete fazer do filho o sucessor, criando uma dinastia familiar, como na ditadura de Cuba; na Colômbia, domínio de traficantes (veja e baixe a biografia do presidente-traficante) e tropas paramilitares e, ao lado do México, principal aliado estratégico dos EUA na América Latina; na Arábia Saudita, reino muçulmano ditatorial da corrente sunita, a mais repressiva do islã; em Israel, que joga hoje o jogo apoiado pelos EUA de tratar os palestinos como foram tratados pelo regime nazista, como se vê neste ensaio fotográfico (até a linguagem vai se aproximando); na Georgia, que aboliu a liberdade de imprensa sem que os leitores da Folha sequer tomassem conhecimento; na Índia, aliada estratégica dos EUA, que adota sistemas sociais de castas de cores pré-medievais e acumula problemas de DH de toda ordem; no Uzbequistão, outro aliado estratégico dos EUA, embora pendular e chantagista, que adotava até há pouco a técnica inquisitorial de fritar em óleo fervente prisioneiros enviados pela CIA; todos, sem exceção, aliados do império e modelos de drásticas violações de DH nunca noticiados pela Folha.

Direitos humanos nos EUA
Problemas de DH nos EUA? Na pátria da democracia? Após os atentados false flag em 2001, o instituto jurídico do habeas corpus foi abolido pela lei mais fascista já aprovada num país ocidental após o fim da Segunda Guerra, o Patriot Act do regime Cheney-Bush. O habeas corpus tem uma história de cerca de 800 anos, desde o século XIII, com destaque para sua fixação no território que hoje é ocupado pelo Reino Unido na ilha inglesa. Espalhou-se, vingou, e é reconhecido pela maior parte dos países. Mas nunca vi a Folha referir-se ao fato de o instituto do habeas corpus ter sido abolido nos EUA a partir do Patriot Act de 2001.

Nem ao fato de a violação ilegal e inconstitucional do sigilo de correspondência, e-mail e telefone ter operado e ainda operar no país, sob o governo de democratas. Um país em que os dados pessoais e da obra, de um leitor que a retira em biblioteca, mesmo de universidades, terem de ser compulsoriamente informados à polícia política não é, definitivamente, uma democracia. E que há mais de 100 mil cidadãos (dados de 8 meses atrás) proibidos de viajar em aviões? Quantos leitores da Folha conhecem esses fatos pelas páginas do jornal?

O direito à defesa nos EUA também desapareceu, como se pode ver em outro artigo deste blog e no site referido. A organização e operação de centros de tortura, exaustivamente documentada na imprensa livre mundial, e que continua sob BHObama, sempre foi ignorada pela Folha. A morte sob torturas de três jovens em Guantánamo, na mesma manhã de junho de 2009, foi ignorada pela Folha e pela imprensa dos EUA, que a Folha reproduz e copia, com destaque para seu conveniado The New York Times. Da mesma forma, a construção pela Halliburton de cerca de 600 centros de detenção equipados com áreas de eliminação física de dissidentes (são tantos os sites que remeto o leitor ao menu), em vários pontos, sempre isolados e afastados de centros urbanos, no território dos EUA, sempre foi assunto tabu para a Folha.

E a Folha, que celebra a questão, obscena e condenável, dos prisioneiros políticos de Cuba, nem sequer noticiou o assassinato da principal ativista contra os golpistas de Honduras, com aspecto de obra de profissionais. As notícias dão conta de que sua morte levou marca registrada do serviço de inteligência israelense, que assessora os gorilas hondurenhos, apelido revivido pelos militares locais dependentes do Pentágono e de especialistas israelenses em morte de dissidentes. Assuntos tabus para a Folha são aqueles não noticiados pela grande mídia associada dos EUA. Pobre jornal.

Diplomacia ou corretagem?
A Folha faz parecer natural, e não um ato de escândalo digno de um governo Arruda, um alto funcionário diplomático em missão oficial de governo dos EUA dirigir-se ao Brasil para vender produtos de suas empresas. Na página A10 de hoje, a manchete é: “EUA dão última cartada para vender caças”. A foto e legenda que ilustram a reportagem são de “William Burns, subsecretário para Assuntos Políticos dos EUA”, que tenta chantagear o Brasil com a afirmação de que a compra de seus Boeing facilitaria a negociação para a compra de 200 SuperTucanos da Embraer pela Marinha.

Ao repórter sua voz: “[...] o recado foi enviado de forma diplomática e discreta, pela delegação que prepara a visita na semana que vem da secretária de Estado, Hillary Clinton, a Brasília. O subsecretário [...] esteve ontem com o ministro Nelson Jobim (Defesa)”. Desconheço o que a Folha pensa sobre discrição. A reportagem não esclarece a diferença fundamental entre as propostas: os EUA não transferem tecnologia, querem ser eternos fornecedores; os outros proponentes, Suécia e França, transferem tecnologia, oferecem assessoria, compartem futuros projetos, configuram novas alianças armadas estratégicas, ao largo do poder imperial, e isso se inclui nos preços.

Os EUA recentemente vetaram a venda de aviões da Embraer brasileira à Venezuela: para o império, os aviões têm “componentes euamericanos”, e esse fato não garantiiria a reposição ao país inimigo. O nome disso nos meios de bandidos etraficantes é chantagem, mas, para a “diplomacia do império” e para a imprensa que a apóia, é apenas tema corriqueiro de noticiário.
Essa mistura de negócios com diplomacia sempre foi, por mais de um século, marca registrada do império, e, para eles, é postura aceita, tanto quanto o Pentágono abrigar conselheiros sobre ciência e tecnologia avançadas que são representantes de empresas. Para os EUA, e para a Folha, isso é o dia-a-dia. Anormal, para a Folha, é Lula apoiar a legítima aspiração do Irã de dominar o ciclo nuclear, tanto quanto o Brasil vem fazendo, e em que já se encontra bastante adiantado, com desenvolvimento de tecnologia própria.

Diferenças e semelhanças
Israel detém tecnologia nuclear, abriga cerca de (estimativas nesse campo são variadas e difíceis, mas há aproximações) de um mínimo de 200 artefatos aptos a explodir. Desenvolveram sua tecnologia com assistência dos EUA. É um país amigo.
O Irã a duras penas vem tentando dominar o ciclo nuclear. É membro do Acordo contra a Proliferação de Armas Nucleares, patrocinado pela desacreditada ONU. EUA e Israel nunca foram membros do Acordo. Mas essa realidade não impede que há anos o Irã venha sendo chantageado e ameaçado por sua “pretensão em ter a bomba”. O Irã não é um país amigo, nem dos EUA, nem da Folha.

O Brasil adotou, finalmente, postura de dignidade e clareza nesta e noutras questões. Mas a visita oficial da esposa traída, pela agente do Mossad Monica Lewinski, do ex-presidente Clinton é abordada pela Folha sob ângulo diferenciado. Na sua página A4 da edição de hoje, sob a manchete arrogante “EUA vêem ‘erro’ em apoio do Brasil ao Irã e elevam pressão”, com foto de aperto de mãos empilhadas de Lula e Ahmadinejad, a Folha lista os pontos de “controvérsia”:

1. Caças. Veja o comentário acima, com o adendo da Folha de que a secretária Hillary Clinton também se empenhará na venda dos seus caças.

2. Bases na Colômbia. A cândida Folha anota: “EUA e Colômbia expandiram seu acordo militar, elevando o contingente americano no país. O Brasil pediu garantias e reclamou da reativação da Quarta Frota que, segundo Lula, alcança o pré-sal”. O império de bases, que tem nas sete bases colombianas mais um pequeno capítulo, e definição perfeita para o atual império em decadência, jamais foi abordado pela Folha, nem sequer em seu dominical ‘caderno de análises’ Mais!.

3. Honduras. O texto do verbete é um primor de desinformação: “De mãos atadas após o ‘abrigo’ ao presidente deposto Manuael Zelaya em sua embaixada, o Brasil pediu ajuda aos EUA para, depois ,discordar da solução apontada: acatar as eleições”.

Sem comentários: nada disso é verdadeiro. Os EUA espernearam, plantaram críticas em muitas mídias, mas o Brasil manteve o asilo; e deixou a embaixada, sob supervisão de diplomata, nas mãos dos asilados, que tiveram apoio de muitos populares que se transferiram para lá. A Folha deveria ter vergonha de suas afirmações: chegou a manter um repórter, dentro da embaixada, que forneceu relatos, de elevada dignidade humana, sobre os asilados e o seu próprio papel; e, agora, escreve esse lixo editorial.

4. Irã. O texto é claro na denúncia da ilegalidade absoluta e da prepotência do império: “Lula recebeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad e deu apoio a um programa nuclear com fins pacíficos. Os EUA acusam o Irã de buscar armas e articulam novas sanções ao país”. O Irã é acusado, segundo a Folha e os EUA, de buscar armas. Israel já as tem, centenas. Mas o Irã não pode buscar essas armas. Mais claro, impossível. Lembra o caso do Iraque, que poderia ter armas de destruição em massa. Como disse em blog anterior, cuidado com o ímpeto de esfaquear seu vizinho, que poderia vir a ameaçá-lo um dia. A teoria da “guerra preventiva”, herança dos neocons fascistas da era Cheney-Bush, mantém-se como doutrina estratégica do inerme governo BHObama. A Folha ecoa.

5. Algodão. O Brasil ganhou direito na OMC de usar 830 milhões de dólares em retaliação contra subsídios ilegais dos EUA. Sugiro mandar os EUA transferirem os recursos ao Haiti. Desde que se retirem, e retirem também do país seus 20 mil soldados armados até os cotovelos. O Haiti, assunto do item 6, não cabe neste espaço: o império exacerbou sua loucura e exagerou na dose.

Mas a Folha é insuperável. Na mesma página A4 em que esses temas se alinham, e da qual me abstenho de comentar a barafunda jornalística do texto da matéria, há um pé de página em que o enviado especial dos EUA , citado ao início deste texto, fala sobre os direitos humanos: “É preciso ser direto sobre abuso, afirma americano”. O box do artigo foi entregue ao fantasma FHC. Serra despenca serra abaixo, e é preciso ressucitar até mesmo o viajante FHC (claro: com Serra ameaçado por Dilma, é preciso dar a palavra ao PSDB, e até mesmo ao caquético FHC). Que, até agora, não se manifestou contra a proibição da marcha do orégano em São Paulo. Logo ele, que vem fazendo esforços até pessoais pela causa!

(Chico Villela)

Em tempo: durante a maior parte dos eventos sociais do terremoto do Haiti, a imprensa dos EUA sempre privilegiou a questão da propriedade e focou saques e destruição, ignorando os milhões de gestos sociais de solidariedade. A Folha de hoje, 1º de março, dia da reunião celebratória dos seus pares em São Paulo, traz manchete repugnante: “Chile põe Exército nas ruas contra saques”. Além de foto de quase meia página, de três saqueadores dentro de um centro de compras semidestruído. Como se tudo se resumisse a colocar tropas contra saqueadores, perante mais de 1 milhão de pessoas em necessidade de sobrevivência e em desdobrados gestos de clemência e compaixão.

A grande imprensa é exemplar, sempre. Num momento em que se celebra, e o povo vivo celebra, a solidariedade, a salvação e o abrigo de vizinhos e pessoas em necessidade, milhares de demonstrações de solidariedade e desprendimento, e até mesmo os esforços do governo Bachelet de socorrer as populações com pelo menos água e comida, a imundície da Folha se revela em sua primeira página. O sentimento único possível é de nojo. Nassif tem razão: os empresários e jornalistas de esgoto estão à solta.